23 de junho de 2010

Admirável mundo novo

Admirável mundo novo. Não existem outras palavras para começar este texto, a não serem estas. As mesmas que Huxley usou para intitular o seu livro. Que eu, na verdade, nunca li, mas o título me encanta. Bastante.

Começo este texto com essas palavras, porque tudo é novo a partir de agora. É como uma borboleta que sai do casulo. Ansiando freneticamente por novas experiências. O primeiro vôo é o mais importante.

Talvez eu esteja mentindo, talvez eu ainda não tenha dado o primeiro vôo. Ou talvez eu ainda esteja voando muito baixo, ganhando impulso para subir. Mas o fato de eu desejar, ou o pouco que eu tenho voado, me faz me sentir a mais habilidosa que existe, quando se trata de voar. E como isso é bom!

Voar é relativamente fácil. É só bater asas, e aí estou eu. Livre. E ninguém está notando isso... Ninguém está notando o quanto eu estou livre. Me perdendo, seguindo o curso de minhas próprias asas.

Mas isso não é ruim. Nunca disse que isso era ruim, é preciso se perder pra se encontrar. Encaro tudo isso como lucro, e não como perda. Tudo na minha vida é lucro, a partir de agora. Independente do que seja, eu estou lucrando.

O novo é amedrontador, às vezes. Mas é admirável, sempre. E o medo é gás, para seguir em frente, para ver o que há de novo. É contraditório. Mas viver é contraditório. Cigarros são contraditórios, pessoas são contraditórias, Deus é contraditório.

Talvez, um dia eu seja obrigada a enfrentar as conseqüências. Eu certamente serei. Mas apesar de tudo, poderei encher o meu peito e dizer que eu vivi coisas novas. Cedo demais, talvez. Mas lá estava eu. Sem arrependimento algum.

Até porque, tudo é feito meticulosamente.

12 de junho de 2010

Pormenores ou Carolina

Tudo era terrivelmente belo quando se tratava de Carolina. Seus olhos escuros e brilhantes e seus cabelos longos e agitados pelo vento... Ah, Carolina! Se Deus existe, Ele trabalhou tremendamente bem em Carolina.

Por onde quer que passasse, Carolina atraia o olhar de guris sedentos pelo seu belíssimo corpo. Inclusive o meu. Especialmente o meu.
E Carolina, por ser ingênua demais, ou por puro desinteresse não correspondia aos nossos olhares. O que nos fazia desejá-la mais e mais.
Nós sabiamos que Carolina nunca olharia para nenhum de nós. Carolina gostava dos caras mais velhos, de homens. E a diferença entre meninos e homens é brusca.

Magro e não muito alto, eu não costumava atrair o olhar de meninas. De nenhuma menina, para ser sincero. Principalmente o de Carolina. Eu tinha noção de que nunca a possuíria. Mas algo era maior que eu.
Numa dessas manhãs sem sol nem chuva, algo me fez ir até Carolina. Com toda coragem de um menino de 13 anos, resolvi que me declararia para ela.
Carolina me recebeu com um sorriso.

Carolina, eu amo você. -disse com dificuldade.

Ela me olhou incrédula, e nada falou por um bom tempo.

Eu não. -resolveu dizer, fria.

Não falamos mais nada. Eu não tinha o que falar. Estava desesperado. O que eu poderia dizer naquela hora? Lembrei de um filme que eu vi. O último filme que eu havia assistido.

Como é horrível e belo o dia que eu ainda não vi.

Essas foram as últimas palavras que eu disse a Carolina.

Hoje, Carolina é apenas uma lembrança. Uma lembrança que eu guardo carinhosamente. Uma lembrança horrível e bela.

7 de junho de 2010

As pessoas não estão preparadas para ter filhos. Elas nunca vão estar...

E aqui estou eu. Sem ter ninguém para conversar e um daqueles desenhos japoneses passando na TV. Não estou prestando atenção. Não gosto muito de desenhos japoneses, não mais.
Quando eu era pequena, teve uma época em que o meu filme preferido era A Viagem de Chihiro, um desenho animado japonês. Lembro-me bem, que por muito tempo, esse era o único filme que eu alugava. Era tão bom... Colocar aquele VHS preto no vídeo cassete, que sempre rejeitava. Então, enfiava novamente a fita lá dentro. E de novo. E de novo. Até que o vídeo cassete não cuspisse mais a fita, e começassem a surgir sons e imagens na minha TV. Sentava-me no sofá, e assistia o filme até o fim... Me encantava com aquelas criaturas mágicas e com a Chihiro voando naquele dragão. Era mesmo um dragão?! Lembro que a menina tinha que salvar seus pais, para que eles não virassem porcos. Lembro de ter medo do filme -sempre gostei de um terrorzinho -e esse medo, era que me fazia ter vontade de assistir o filme até o fim.
A cada vez que eu assistia, era uma experiência diferente. Sempre uma surpresa. Preciso ver o filme outra vez; viajar na minha infância, resgatar coisas lá no fundo da memória.
Apesar de eu não gostar muito de desenhos japoneses.