24 de julho de 2010

Ela sempre vê bobagem
Lê dentro de mim no escuro
Só ela sabe o quê...


Entre ele e você, Vanguart

12 de julho de 2010

O Grande Hotel

Era sexta feira. Apenas o final de semana esperava por nós. O final de semana e o Grande Hotel.

Crescemos perto do Grande Hotel, sempre curiosos para saber suas lendas e histórias. A maioria de nós ainda não era nascido quando o Grande Hotel faliu. Era um hotel muito antigo e tradicional da nossa cidade. Quem havia conhecido o hotel nos bons tempos, não economizava elogios para dizer o quanto que as instalações e os serviços eram bons.

Ninguém realmente sabia o motivo daquele hotel ter falido. As coisas sempre pareciam tão fartas por ali. Os proprietários haviam sumido, e os poucos funcionários que restavam não comentavam nada sobre essa súbita caída do Grande Hotel. Uns diziam, que o hotel nunca ia bem, outros diziam que o gerente havia tomado todo lucro. Nada muito concreto, na verdade. As dúvidas e o mistério do hotel nos cercavam. E estávamos com vontade de descobrir o que realmente havia acontecido, porque aquelas histórias não nos satisfaziam. Algo ali era esquisito.

Era um grupo médio, cerca de 12 meninas e meninos corajosos. No finalzinho da tarde, marcamos de nos encontrar na rua antes do hotel. Levamos nossas bicicletas e enchemos nossas mochilas de pequenas armas de defesa e biscoitos. Estávamos prontos.

Pedalamos até o hotel. O Grande Hotel ficava num lugar alto, e a estrada de acesso era de barro. Apenas metade da escada estava asfaltada. Pedalar ladeiras altas é difícil, mas nós não desistimos. Quando alcançamos o hotel, já estava quase escuro. Nenhum de nós havia subido ali antes. Confesso, que estávamos com um pouco de medo… Pelo menos eu.

Apesar de velho e acabado, não podíamos negar que o hotel era belíssimo. Uma casa grande e branca com portas e janelas de madeira escura. Quando ainda funcionava, devia ser a casa mais bela de toda cidade.

Agora, as paredes do hotel estavam descascadas, as portas e janelas estavam arrombadas e quebradas. Era uma casa típica de filme de terror, ou algo assim. O letreiro apagado, em cima da porta principal tinha as letras “GRNDE HOEL”.

Olhamos um para o outro e tomamos muita coragem. Alguns de nós ainda hesitou em entrar, mas o Marquinhos, o que tinha dado a idéia de invadirmos o hotel, disse que nós não podíamos amarelar naquela hora. E alguma força maior que nós, fez com que entrássemos. A Luiza pegou na minha mão e disse que estava com medo. Eu a mandei ficar calma. Mas nem mesmo eu estava.

Tudo estava muito empoeirado e sujo. O lugar tinha um cheiro insuportável de mofo e coisa velha. Na primeira sala, havia um balcão e um telefone velho em cima dele. Havia também uns sofás cobertos por lençóis quase cinzas. Em cima do balcão, uma placa nos informava que ali devia ser a recepção. Não havia nada de suspeito ou interessante por ali, então decidimos seguir a placa que nos indicava a piscina.

A piscina ficava num jardim. Devia ser um jardim bonito antigamente. Agora, estava tomado por plantas que cresciam descontroladamente e sem ter pra onde ir. A piscina estava com alguns azulejos quebrados e com muito lodo no fundo. Vimos também alguns sapos… Nada realmente empolgante, e aquilo estava ficando sem graça.

Voltamos e decidimos ir até a cozinha do hotel. Tinha um cheiro horrível de coisa podre. Incrível como depois de tanto tempo, ninguém tenha ido ali para checar as coisas. Saímos logo de lá, estava insuportável. Resolvemos seguir o corredor dos quartos.

Era um corredor escuro, iluminado apenas por algumas pequenas lanternas que havíamos levado. As portas de vários quartos estavam semi-abertas. E algum cheiro terrível saia de lá. Era um cheiro estranho e desconhecido.

Não havíamos entrado em nenhum quarto ainda. Então ouvimos o primeiro gemido. Foi um alvoroço, mas Marquinhos logo conseguiu manter a calma entre as garotas. Era um gemido curioso, talvez a procura de alguma coisa. Depois de calmos –ou quase isso –ouvimos uma respiração, parecia ofegante. Ouvimos o segundo gemido, mas esse vinha de outro lugar. Essa foi a deixa pra que as garotas fossem embora. Resolveram que iam ficar lá fora, nos esperando e caso alguma coisa acontecesse, elas estavam prontas pra buscar ajuda. Foi realmente melhor assim.

Quando estávamos novamente concentrados em nossas buscas pelo mistério, ouvimos o terceiro gemido. Esse parecia enfurecido. As respirações, se multiplicaram. Mas nós não estávamos vendo nada. Resolvemos entrar num quarto.

O quarto fedia ainda mais que o corredor. O cheiro estranho ficou intenso. Foi aí que notamos a criatura que nos observava em cima da cama. Era uma criatura horrível. Tinha grandes olhos vermelhos, um pequeno corpo curvado e raquítico e os dentes muito afiados. E tinha aquela respiração carregada e ofegante. Balbuciava alguma coisa estranha numa voz rouca e então gemeu alto.

Outras criaturas como ela invadiram o quarto e vieram em nossa direção, alguns meninos chamaram por socorro e pudemos ouvir gritos desesperados das garotas lá fora. Estávamos desesperados também. As criaturinhas estavam cada vez mais perto.

Pegamos rapidamente nossas facas e na adrenalina nossas lanternas caíram no chão. E enquanto procurava o facão na mochila, Marquinhos não percebeu que uma das criaturas se aproximava, até que ela o envolveu com seus braços e dedos finos. Ele agonizava e nós não podíamos fazer nada. As outras criaturas apenas observavam tudo aquilo. Não podíamos sair do quarto, pois saberíamos que qualquer movimento iria causar ainda mais problemas. Observamos amedrontados, a criatura abrir a cabeça de marquinhos ao meio de forma brutal, e devorar o seu cérebro. Aquilo tudo era terrível, mas naquela hora, não tínhamos noção do quanto.

Quando finalmente acabou, a criatura que comia o Marquinhos urrou, então, uma outra se aproximou dela e juntas saíram do quarto com o resto do corpo de Marquinhos. Então, as outras criaturas avançaram para cima de nós, gemendo e urrando como nunca. Gritamos apavorados e enfiamos nossas facas sem nem olhar para onde. Tentávamos nos desviar daqueles dentes afiados e daquelas garras finas. Quando acertávamos alguma das criaturas, elas gritavam e uma gosma verde musgo saia de dentro delas, e então, elas paravam de respirar.

Enquanto tentávamos acabar com todas aquelas criaturas, ouvimos alguns tiros vindos detrás de nós e vimos as criaturas restantes gritarem e caírem no chão. Felizmente, nenhum outro garoto havia sido capturado. Então, olhamos para trás e um velho de chapéu nos olhava com uma cara muito irritada.

- O que estão fazendo aqui pirralhos? –ele perguntou.

Gaguejamos algumas coisas e então calamos quando ele nos perguntou se sabíamos o que era aquilo.

- Estes carinhas, são alienígenas macabros que estão habitando aqui há muito tempo. Eles desceram aqui, há anos, quando o hotel ainda funcionava, e acabaram com os hóspedes e vários funcionários, da mesma forma que fizeram com o seu amiguinho. Aliás, acho que ele não vai escapar dessa… Obviamente. Enfim, que estão fazendo aqui?

- Queríamos saber dos mistérios que esse hotel escondia. –falou um dos meninos.

- Agora sabem! –o velho falou. –Vão embora rápido, antes que essas coisas acordem e devorem vocês. Elas nunca morrem.

- Como o senhor sabe disso? –perguntou um dos garotos.

- Eu já fiz isso várias vezes… Moro naquele casebre ali atrás, sempre vejo quando tem algum movimento suspeito aqui, como o de vocês. Mas isso não importa, agora, sumam!

Enquanto corríamos em direção à recepção do hotel, o velho nos alertou.

- Não contem a ninguém! Eles descobrirão e irão atrás de vocês! Confiem em mim.

Concordamos e saímos do hotel atônitos, as meninas nos esperavam preocupadas… Então, deram falta do Marquinhos.

Agora, teríamos de inventar uma boa história.