22 de outubro de 2017

diálogos verdadeiros de um amor verdadeiro que precisa ir embora

- eu fico toda desconsertada quando tu vem.
- apois eu gostei demais de te ver.
- eu sempre gosto mais do que deveria.

12 de outubro de 2017

caetano veloso para embalar histórias de amor

o seu quarto cheirava a cigarro e incenso de alfazema. "é para purificação do ambiente", você disse lendo a caixa lilás. depois riu e contou que na verdade era para despistar o cheiro de maconha e de marlboro que ficava depois que você fumava. uma luz verde pulsava num dos cantos do quarto e você me chamou para sentar na sua cama.

olhei para a parede e perguntei sobre todas aquelas imagens coladas ali, meio galeria de arte. você me explicou cada uma delas e de onde vieram. "ah! aquele é de um museu que fui em buenos aires. eu gosto demais daquela cidade".

aí você me chamou pra mais perto. meio sem jeito, me deitei ao seu lado e você sorriu pra mim antes de começar a fazer carinho no meu ombro. borboletas voavam dentro do meu corpo inteiro e você percebeu quando me arrepiei.

tocava, claro, caetano veloso na vitrola que você tinha acabado de ganhar de presente dos seus avós. eu te contei sobre todas as vezes que meu pai me levava à praia ouvindo caetano a viagem inteira e só. daqui até serrambi. eu não me cansava de caetano. você sorriu e disse que certamente essa seria uma boa história para se transformar num poema.

talvez tenhamos passado horas falando sobre caetano veloso e toda aquela discografia que parecia infinita."mas eu prefiro jorge mautner", você concluiu e então me deu um beijo na boca e eu correspondi àquele beijo.

29 de setembro de 2017

para a menina que escuta mautner

eu queria te jogar um feitiço
pra que toda vez que você
escutasse jorge mautner
[de olhos fechados]
você lembrasse de mim
e percebesse que
eu não estou mais
em nenhuma música

ou estou?

prefiro que não.

24 de setembro de 2017

a outra menina de gêmeos

lembrei de uma vez, na mc donalds,
que você pediu sorvete e batatinha
para comer ao mesmo tempo
disse que gostava de salgado e doce

e de quando eu te falei do show de caetano
você me disse que preferia gil
como quando eu te falei que ele parecia um dia de sol
e você disse que estava mais pra um fim de tarde

ou em agosto, no bairro da várzea,
quando te pedi pra ficar
você precisava ir embora

mas já?

22 de setembro de 2017

como eu me apaixonei por você

- bem aqui, aos 5 ou 6 anos, eu ganhei minha primeira cicatriz. sangrou muito.
- como foi?
- fui atropelada por uma bicicleta. fiquei com medo de não conseguir tomar banho de mar no outro dia.
- e conseguiu?
- sim. mas lembro que ardeu demais.
- me conta outra coisa sobre tu.
- eu nunca comi jaca.
- como assim tu nunca comeu jaca?
- nunca comi. nunca quis provar.
- tu precisa provar. jaca é meio como dormir depois do almoço na rede.
- que delícia.


12 de setembro de 2017

uma delícia, um incômodo

- eu gostei demais das coisas que ela escreve.

você falou e todos os esses que vinham da sua boca chiavam, como se você estivesse com a boca cheia de algodão doce. eu não te falei mais nada depois disso. você sorriu como quem dissesse que já tinha feito de tudo.

é, bia, se apaixonar é como comer algodão doce e ficar com as mãos muito grudentas depois. é como um acidente.

8 de setembro de 2017

rotina

atravessar as pontes da cidade com o vento batendo no cabelo e deixando tudo bagunçado. parar para observar os três prédios modernos e quadrados que se misturam com os casarões da rua do imperador. pensar em você. sentir o cheiro do rio, dar de cara com a aurora, com o cinema, com mais prédios quadrados e modernos. o teatro do parque. pensar em você. tomar um chá mate na imperatriz, olhar clarice lispector, imóvel, e querer tomar um café com ela. tu sabia que ela era de sagitário? achei que tu fosse gostar de saber disso. subir na loja de vinil, não achar nada de caetano. vendi o último quase nesse instante. tom zé é raridade, não acha em canto nenhum, tem esse de bethânia. eu não escuto muito bethânia. descobrir o refestança. encarar os olhos de rita lee, azuis, malucos. tu nunca me falou desse disco. levar as melhores canções de gil. personalidades. mais prédios modernos e quadrados, a rua que você mora. pensar em você. bem muito. ate cansar. subir no ônibus. que sorte seria se a gente se esbarrasse. buzina, laranja cravo, calor. pensar em você. chegar em casa. ouvir gil a tarde inteira pensando em você.

31 de agosto de 2017

quarta-feira

às vezes eu queria dormir pra ver se tudo isso passa. é um negócio que passa pelo meu peito e vai pro coração, depois para os meus ouvidos, minha cabeça. bem lá dentro da minha cabeça. são os instantes. sorrisos. os seus olhos inquietos e profundos. meu deus! sua careta dizendo que não gosta de bukowski (eu nunca sei escrever muito bem). seu sorriso quando eu te falei do meu pai. você olhando para os bebês na frente da igreja. a sua agonia me olhando (inquieta). minhas lágrimas em algum momento (talvez agora). e o seu silêncio agora. enquanto eu escrevo essas palavras. um oceano de silêncio, como se nós duas fossemos dois continentes. distantes. que nada tem a ver um com o outro. mas que eu tenho vontade de conhecer. meu deus, menina. o que você faz comigo?

28 de agosto de 2017

menina de gêmeos

- deixa eu colocar uma aqui.

já estava de manhã mas ainda estávamos ouvindo música. metade da festa dormia, metade estava bêbada demais para prestar atenção. a gente não. você colocou "com medo, com pedro" e disse que achava aquela uma das músicas mais lindas que gostava de ouvir.

- gil escreveu essa música pro neto dele. e é linda, porque é como se a gente tivesse medo de tudo, mas com pedro, parece que esse medo não existe mais, sabe? nem depois do fim do mundo, do fim de tudo. é como se pedro fosse uma proteção, como ter alguém assim.

você explicou. eu não sabia de nada daquilo e nunca tinha parado pra pensar na música daquela forma. depois você me disse que eu ia gostar da próxima e colocou "tigresa" para tocar.

mas aí você se levantou e foi conversar com outra menina.

10 de agosto de 2017

dia dos pais

painho gosta de fazer pipoca
eu gosto de comer pipoca
e ler um livro
mas eu não quero que o livro fique
engordurado de pipoca
painho gosta de comer pipoca
eu gosto de ler um livro
painho gosta de ler um livro
eu de comer pipoca
ler um livro
e de painho

2 de agosto de 2017

dúvida

enquanto estamos perdidas nessa imensidão de silêncio, eu penso em você
e me dá arrepio só de olhar aquela tua foto, porque é um absurdo como você é bonita
aí eu fico me perguntando tantas coisas e sei lá quando a gente vai se falar de novo














(este poderia ter sido um diálogo)

27 de julho de 2017

desterro

É complicado. Eu nunca mais havia escrito nada na minha vida. Agora já estou no terceiro texto pois preciso transformar tanto sentimento em alguma coisa. Isso é desde que eu te conheci. Eu sinto uma constante vontade de chorar, mas não é porque estou triste. São muitas descobertas que não cabem dentro de mim.

Eu nunca tinha parado para ler nada de Drummond, mas olha só onde estou. Isso é algo que eu gosto de repetir porque eu nunca pensei que pudesse estar aqui novamente. Minha mãe tem uma biblioteca enorme, com muitos livros, mas só tem um de Drummond. Por sorte achei um trecho do poema que eu queria te mostrar. Mas eu nem sei se você gosta de Drummond.

Eu descobri que ela tem muitos livros de Mia Couto. Como eu te disse. É muita descoberta. E eu te achei linda. E eu coloquei a mesma música para tocar muitas vezes. Porque ela é linda. E me lembrou você.

Eu passei a tarde toda pensando em você.
Mas a verdade é que muita coisa não faz o menor sentido. Eu fico me perguntando, por exemplo, de onde veio tudo isso que eu ando sentindo. Como se todo esse sentimento fosse uma coisa muito intrusa dentro de mim.

Eu não posso definir como “amor”. Amor é o que eu sinto pelo meu último namorado. Você é algo mais como.

Descoberta.

É como descobrir todos aqueles livros de Mia Couto na estante da minha mãe. Ou passar a tarde procurando uma poesia de Drummond.

Eu não sei mais de nada, mas quando estava na praia, pedi para o mar que esse sentimento - que mistura medo, alegria, dúvida e descoberta - seja algo muito bom.

É muito bom estar de volta. E talvez isso seja muito mais sobre mim do que sobre você.

20 de julho de 2017

anita,

toda vez que eu sento na minha cama e leio as palavras que você escreveu, me sinto abraçada e com vontade de chorar. são lindas. eu penso: caralho. e não consigo pensar em mais nada.

19 de julho de 2017

um cão dos diabos

eu te falei que tinha desistido de escrever sobre amor. até que você entrou pela porta e perguntou se eu já tinha comprado o ingresso praquele show que eu queria ir tanto. te disse que ainda não, que ia esperar até o fim do mês e você sorriu pra mim e balançou a cabeça.

eu te falei que tinha desistido, mas sai do meu quarto e dei de cara com você na sala, coberta como qualquer bicho que hiberna no inverno enquanto lia pela milésima vez o livro de leminski que eu tinha te dado há uns quatro ou cinco meses.

é, eu tinha desistido mesmo e então você olhou séria pra mim dizendo que aquelas palavras eram como abraços que protegem a alma e o corpo. você apontou para o papel e disse que aquele poema de leminski que falava sobre amor lhe lembrava um poema de drummond que falava sobre amor. eu te disse que todas essas coisas sobre o amor eram na verdade resumidas numa frase de bukowski.

eu tinha te falado muitas e muitas vezes que não escreveria mais nada sobre amor, mas olha só onde estou.

18 de maio de 2017

Sofia

A primeira coisa que eu reparei em você foram as covinhas que seu rosto ganhava toda vez que você sorria. Eu só precisei de duas semanas para me apaixonar por você, e talvez nem estivesse tão apaixonada assim.

Dessa vez, foi tudo muito diferente.

Você não escutava as mesmas músicas que eu, você não assistia os mesmos filmes que eu, nós não frequentávamos os mesmos lugares, nem nossas ideias caminhavam para mesma direção. Você ficava sempre surpresa quando eu dizia alguma coisa sobre mim, porque nada do meu mundo fazia parte do seu. Era absurdo que mesmo com todas essas diferenças, eu ainda quisesse conquistar qualquer coisa em você.

O que mais me deixava pensativa em relação a você não eram todas essas nossas diferenças, não. Você era uma menina, eu era uma menina e todos aqueles sentimentos acabavam se misturando com a incerteza de que aquilo pudesse ser muito ilógico para você. 

Viramos amigas. Me sentia meio perdida em todas as festas que você me chamava pra ir, mas pelo menos dançávamos juntas e bebíamos a noite inteirinha. Eu até me divertia vendo com você todas aquelas comédias românticas que te faziam chorar. Nessas horas, acho que nossas diferenças sumiam e era bom viver todos aqueles momentos ao seu lado.

Eu gostava de fazer carinho no seu cabelo, na sua pele, que vibrava toda vez que eu te tocava, e de ficar olhando você fazendo o que quer que fosse. Ao mesmo tempo morria de medo que você desconfiasse que na verdade eu estava mesmo apaixonada por você. 

Nós nunca nos beijamos. Você nunca descobriu.

Nossa amizade acabou abrindo espaço para novas pessoas, comecei a namorar um cara mais velho e você seguiu sua vida. De forma tão crua quanto estas palavras que te escrevo.

Agora parece que todas aquelas nossas diferenças são como abismos, Sofia.