14 de março de 2010

Ela vestiu um vestido branco. Mostrou para a mãe, que não gostou. Vestiu-se novamente. Curto demais. A mãe reclamou que ela só ia pra igreja vestida como a "desgraçada das desgraçadas".
Que diferença fazia? Desde quando ir a igreja exigia uma roupa requintada? Nem mesmo gostava de ir a igreja. Não que não gostasse dos ritos, com esses já estava habituada.
Não gostava do processo. Não gostava de vestir uma roupa de cinema, não gostava de andar no carro quente do pai, não gostava de abraçar pessoas com cheiro de lavanda, pessoas que ela nem conhecia. Não gostava do calor que fazia lá dentro. Não gostava de encarar as meninas que já encarava de segunda a sexta na escola. Não gostava que perguntassem como ela estava se sentindo. Não gostava do sermão do padre, não gostava dos olhos dos santos, e a óstia não tinha um gosto bom. Acreditava em Deus, e desacreditava na igreja. Acreditiva na Biblia, e desacreditava do folhetim dos domingos. Mas mesmo assim ia. Não cantava música alguma, achava melhor ficar calada ao proferir mentiras.
O padre dava a missa, os fiés ceavam, as pessoas lhe abraçavam. E a parte que ela mais gostava era de voltar pra o carro quente do pai, ouvir as reclamações da mãe e só ter que voltar ali no próximo domingo.

9 de março de 2010

A História de Lily Braun

Eu escrevi, é experimental. Todos conhecem Lily Braun de Chico (e Edu Lobo) não é?


Lily gostava de cinema, de romances. Ela gostava de ler e de se vestir de personagem principal, gostava de sonhar com aqueles homens dos livros. Surreais.

No Dancing do hotel, lia atenciosamente um exemplar de Emily Brontë, mas o abrir da porta chamou sua atenção. Exatamente como aqueles homens dos livros que Lily costumava ler, ele apareceu por lá. Lily disfarçou enquanto o observava. Ele estava distraído, mas num relance, aqueles olhos se fixaram em Lily, e dela não saíram até o fim da noite. Antes de ir embora, Lily sorriu timidamente para ele.

Na noite seguinte, por algum motivo ela resolveu voltar ao Dancing. Para sua surpresa, ele estava lá novamente. Depois de algumas trocas de olhares, e sorrisos, aproximou-se dela com um drinque, e ofereceu este a ela. Chamou-a de Anjo Azul enquanto conversavam, assim como aqueles homens de romances que Lily tanto sonhava. Os encontros passaram a ser freqüentes. Como no cinema, de vez em quando ele escrevia um poema especialmente para ela, e junto com o poema, entregava uma rosa. Ao som do blues, no Dancing, Lily se derretia com todas aquelas juras eternas de amor.

Certa noite ele abusou do uísque, dentre algumas palavras e declarações ele disse que o corpo de Lily naquela noite pertencia só a ele. “Por favor” –pensou Lily. Pôs o xale sobre o decote, e disparou envergonhada.

Por mais que não quisesse, algo a fazia não deixar de freqüentar o Dancing. Dentre um livro e outro, Lily levava seus olhos até a porta. Ele não aparecia mais por lá. Quando estava para sair, Lily deu uma ultima olhada para porta, encantou-se então com o buquê e os dez poemas na mão do homem de seus sonhos. Por mais que doesse Lily não abdicou de seu orgulho. Disse-lhe adeus, e ele, insistente, jogou as rosas no chão e disse-lhe que agora a amava como esposa. Disse-lhe que queria casar, desta vez Lily não hesitou, e terminou sendo beijada no altar. O casamento parecia ser deslumbrante, como nos romances. Lily decediu que não precisava mais ler livros românticos, sua própria história já bastava.

Com o passar do tempo, não havia mais idas ao cinema, não havia mais drinques no Dancing, trocas de olhares, e nem mesmo uma rosa.