24 de dezembro de 2011

bem cedinho

bom dia, meu amor. acordei mais cedo só pra te ver dormir. são cinco horas e aqui estou eu, te olhando e te sentindo e te amando. que preguiça. fico imaginando no que você está sonhando. deve ser um sonho bom, você está quase que sorrindo.

levanto da cama devagar, quase sem me mexer. o quarto ainda está escuro, mas a janela mostra que o sol já dá o ar de graça, rasgando um dia muito bonito. imagino que tão bonito quanto você, aí, toda encolhidinha, enrolada nesse lençol branco.

vou até a cozinha, coloco água na chaleira e olho o dia nascer. os passarinhos cantam no vizinho, sopra um vento bom no meu rosto e é fantástico ver o dia ganhar cor. bonito mesmo, minha linda. penso que só não desejo você vendo isso comigo agora, porque não queria te tirar da cama, o teu sono tá gostoso demais.

a chaleira apita. fico com medo que você desperte e logo apago o fogo. pó, água, as últimas gotinhas pingando no bule, o cheiro bom de café e você. você tem esse jeito que se mistura com tudo que é bom, e melhora todas as coisas.

tomo meu café ao som do último passarinho cantante, o apartamento já ganhou sua luz e, acredita que o jornal já chegou? volto ao quarto para te olhar mais um pouco, você continua do mesmo jeitinho. dou um beijo na tua bochecha, digo que te amo bem de mansinho e deito novamente ao teu lado. bom dia, meu amor.

19 de dezembro de 2011

para alice não esquecer de amar

Alice,
menina, quando você perguntou ontem sobre amor, eu fiquei sem palavras. Eu ainda estou sem palavras, florzinha, diante desse sentimento tão grandioso e nobre, qualquer um fica sem palavras.
Você perguntou se valia a pena. Olha, vou te dizer que vale a pena sim.
Vale a pena pra você, principalmente! Independente de qualquer coisa, você vai crescer se espalhar amor por aí.
Sei lá, Alice... Ama! Ama sem esper-




Alice, amar é uma merda.

18 de dezembro de 2011

mais um ensaio sobre você

Entra pra ver como você deixou o lugar;
E o tempo que levou pra arrumar aquela gaveta.
Açúcar ou adoçante, Cícero

12 de dezembro de 2011

deixa eu te contar

do medo que eu tenho que você vá. da vontade que eu tenho de te ter perto pra sempre.
do medo que eu tenho de machucar você. de como eu tenho tentado te cativar com todo o cuidado do mundo.
da felicidade que você trouxe quando chegou.
deixa eu te contar que eu gosto muito de você, muito mais do que cabe.
deixa eu te contar que é daqui até a lua,
ida e volta.

10 de dezembro de 2011

ensaio sobre você

Não se esqueça,
por enquanto,
de esquecer alguma coisa
pela casa
e vir buscar do nada
Açúcar ou adoçante, Cícero

7 de dezembro de 2011

passarinho no dia de número 7

Você acordou cheia de dengo, me pediu um café, ainda com os olhos fechados e voltou a dormir. Apareci meia hora depois com nossas canecas e bolo. Te dei um beijo e você imediatamente levou a mão ao rosto, sorrindo. Murmurou sobre minha barba e abriu os olhos devagarzinho. Que preguiça gostosa você exalava!

Como sempre, pegou a minha caneca e deu um gole no café. Suspirou e voltou a deitar. Disse que hoje estava com vontade de ficar na cama o dia inteiro e eu disse que um banho resolveria. Você deu um pulo e mordiscou a pontinha do bolo. Disse que ia pro banho e me deu um abraço bem demorado. Demorou uns quarenta minutos no banho e saiu de lá de pele gelada, cheirando à flor, e vestido colorido. Você é tão bonita.

O seu café já tinha esfriado e eu já tinha comido todo o bolo. Tomou suco e comeu abacaxi, parecia uma menininha se deliciando com o abacaxi. Prendeu o cabelo pra trás -você fica linda assim -e fomos experimentar o mundo.

Primeiro, paramos numa loja ali perto e compramos uns bombons de licor, comemos os bombons enquanto falávamos sobre o disco de Caetano que tínhamos ouvido na noite anterior. E passamos um tempo calados, só olhando a beleza que explode das ruas da cidade. A Imperatriz em dia de sábado parece pior que o Galo, tem gente de todo o tipo, de todo o cheiro, cores e sabores, como você diz. Você adora passear por ali, e eu também.

Subimos até a nossa loja preferida e o cheiro de música boa já toma conta da gente no segundo degrau. Ali tem discos do chão até o teto, pra todos os gostos. Vamos primeiro na estante de rock gringo e pouquíssima coisa nos agrada, partimos pra nossa favorita que é a de música nacional. De Noel à Titãs, a gente se diverte. No fim, ficamos com um de Caetano e outro de Legião.

Já em casa, é disco na radiola e macarronada cozinhando. Tomamos uma coca enquanto bate um vento frio.  Você diz que vai chover e me manda fechar as janelas. Eu, incrédulo, fecho tudo, como você pediu e não é que começa a cair uma senhora chuva!? Você é demais! Sua macarronada estava uma delícia, também.

Depois do almoço, você faz questão de deixar a cozinha nos trinques, enquanto eu fico no sofá pensando no filme que iremos assistir à tarde. Daí você se joga ao meu lado e eu te abraço, é como se tivesse abraçando uma coisa tão frágil que não dá pra soltar, e você me abraça de volta. E ao som da chuva e de um Caetano chiado e bem baixinho, nós dormimos assim, aninhados, com a certeza de que as coisas mais belas cabem num abraço.

30 de novembro de 2011

das mazelas de ser alice

Alice jogou sua mochila no primeiro canto vago que achou, mas nem assim conseguiu se livrar do peso que carregava nas costas. E nem era um peso vindo lá de fora, era um peso que vinha dela. Era o peso que era.

Em casa, fazia silencio e ela foi dormir. Dormiu até quase nove horas e acordou cansada. Alice andava bem cansada esses dias. Tinha vontade de ir embora mesmo sem chegar.

Alice tinha um nome cheio de graça para alguém tão sem graça. Alice tinha manchinhas brancas nas unhas roídas e uma postura horrível. Fazia palavras cruzadas enquanto tomava suco de uva, lia revista Capricho no banheiro, falava sozinha e se exaltava demais ouvindo música clássica. Gostava de olhar sites de imobiliárias, gostava de azulejos antigos, tinha uma coleção antiga de selos e outra de pessoas que já tinham ido.

Alice tinha medo. Medo de tudo. Medo dela, medo dos Beatles, medo da verdade, medo dos outros, medo de vomitar, medo de sorrir, medo de chorar, de amar e de despedidas.

Alice tinha dúvidas, manias, desejos, complexos e poucos amigos. Ela era tão só dela que nunca admitia nada, acho que tinha medo disso também. Alice sabia decorado o nome de um monte de remédios e sempre fazia o mesmo caminho pra voltar pra casa –era o tempo de oito músicas. Falava tudo pela metade e tinha ódios repentinos. Alice também não sabia a forma certa de amar. Amava rápido e se entregava fácil, assim como se machucava. E tinha medo disso.

Alice estava cansada de ser Alice, hoje. Não, minto, Alice estava cansada de tanto pesar.

Acordou enjoada e com fome e foi tomar um banho. Alice chorou, chorou com vontade. Chorou cheia de dores. Chorou de cansada e cansou. Ainda molhada, se jogou na cama e ficou lá, olhando pra janela amarela de um dos prédios vizinhos. Podia ficar ali a noite inteira, cansada de tudo, até se cansar. Mas aí, ela foi comer. 

24 de novembro de 2011

um bom motivo pra nós dois

Na verdade, apesar de minhas "polipolaridades", eu te amo. Mesmo sem graça, mesmo sem vontade, mesmo que não hoje.
Eu te amo um tanto. E do nosso (pode ser nosso?) amor, a gente é que sabe.

21 de novembro de 2011

pela primeira vez, eu não quis te escrever

Domingo, 20 de novembro de 2011

Ana,
é absurdo o tempo dos dias. É muito mais corrido que eu.
Faz tempo que não te escrevo, meu bem. Eu tô dizendo que anda corrido... Deixa eu te contar, que esses dias eu conheci alguém. Não é um alguém especial como você, Ana. Isso seria impossível. Você é única. É única e incomparável (neste momento, luto comigo mesmo pra não ter raiva de mim -nem de você- por te valorizar tanto). Mas veja bem, não me sinto tão bem ao lado dela quanto ao seu lado.
Ana, vou parar por aqui porque acho que irei mentir coisas bonitas nas próximas linhas. Desculpe.

20 de novembro de 2011

morrendo

Quarta feira, 2 de novembro de 2011

Ana,
bom dia, minha querida. Como vai você? Hoje é dia dos mortos. Você morreu em nós dois e isso dói. Dói.
Lembro do dia que você disse que nunca ia me deixar, mesmo que morresse, estaria sempre comigo. Ana, concordemos que você não me deixou, não por inteiro. Você ainda mora no meu peito, na minha cabeça, no meu nariz. Só não mora mais nas minhas mãos. Eu nem sei se você já morou um dia, meu bem.
Não estou querendo ser um cara obsessivo, Ana, não. Mas gostaria de ter você morando aqui, ainda. Vivendo aqui, ainda. Em mim, sabe?
Estou com saudades da sua vivência, Ana.

19 de novembro de 2011

eu odeio verão

Segunda feira, 31 de outubro de 2011


Ana,
hoje estou com raiva de você. E não quero te dar um "bom dia", nem um "boa tarde", nem um "boa noite". Eu não me importo com a hora em que você está lendo essa carta. Nem se você está lendo, aliás.
Hoje eu não gosto de você, Ana. Eu não gosto de você.
Eu não gosto de suas manias, do seu sorriso, nem do seu cheiro de rosas. Eu detesto esse seu cheiro de rosas, Ana. Detesto o calor da sua pela e a sua voz. Detesto seu pescoço, seus pés, sua boca e o seu shampoo de tutano.
Espero que você não volte mais.

Sem carinho,
não mais teu.

14 de novembro de 2011

Tom,

estou de mudança, Tom. Isso mesmo! E eu espero que dessa vez eu fique. Cansei de procurar casas pra morar.
A casa antiga não estava dando conta, ela nunca deu, na verdade. Não dava conta de tanta tempestade já te contei como chove por aqui, Tom?! Sabe, a melhor parte da mudança foi jogar fora toda aquela tralha! Ainda tem muito pra por no lixo, mas nós damos um jeito.

A casa nova é fabulosa, Tom! E tem um jardim belíssimo, cheio das flores mais belas que já vi. Não sei se por causa da primavera, que nasceu mais bonita esse ano, não sei. Mas o meu jardim novo é coisa rara de se ver e de ser. Fico feliz de ter sido privilegiada de maneira tão grandiosa, Tom.
Enfeitei a casa nova com fitas, cores, passarinhos, borboletas e estrelas, ficou linda mesmo! No rádio, uma nova canção; nas estantes, novos nomes e títulos e até no cardápio, novos sabores, Tom. Qualquer dia, eu te chamo pra tomarmos um suco.

Se quer saber, a casa ainda não tá pronta. Faltam algumas pedras e penas, aqui e ali. Sinceramente, não sei se um dia a casa vai ficar totalmente pronta. Tenho receios e dúvidas sobre isso. Mas por enquanto, me deixa curtir o cheiro de novo, que eu, enfim, me sinto em casa.

13 de novembro de 2011

manhã

Acordo cedo e fico te esperando acordar. Você dorme quieta que nem passarinho. Um pouco mais tarde, tateia   a cama com os pés, em busca de meus pés. Você passa o braço por volta de mim e sorri, ainda não abriu os olhos. Ficamos desse jeito gostoso até você abrir os olhos. Te dou um beijo na testa, você se espreguiça e se levanta.

Faço café para nós dois, passo geleia nas fatias de pão e você chega na cozinha. Cheiro de banho novo e de pele fria. Você é tão bonita. Me agradece pelo café e conversamos sobre o filme da noite anterior.

Saímos para nossa caminhada matinal e brigamos no elevador. O motivo de hoje é a sua presença na festa daquele seu amigo da faculdade. Os vizinhos acreditam e abandonam o elevador na primeira oportunidade, morremos de rir quando ficamos sozinhos. Na rua, você encontra aquele poodle toy horrível do 702 e pergunta porquê não temos um também. Eu digo que ele é horroroso, você dá uma risada e me dá um tapa enquanto morde os lábios.

Você aponta para todas as casas que quer morar, e quando alguma tem uma placa de "vende-se", você enfatiza dando uma paradinha na frente. Escondido de você, já anotei todos os números de telefone estampados nas placas.

Voltamos pra casa e tomamos aquele banho que a gente adora. Você prepara uma salada, nós almoçamos cheios de gracejos e vou trabalhar.

No som do carro, escuto os Smiths enquanto penso em você.

8 de novembro de 2011

diálogo de pracinha

 Você não tem a sensação de que as pessoas podem ir embora, tipo, amanhã?
 Hoje, ainda.


Silêncio.






(Você é demais!)

1 de novembro de 2011

terça feira

Preciso parar de dormir nas tardes preguiçosas de terça feira à custa do teu colo vago. Ontem foi meio assim, amor. Você lia seu Neruda com um lápis na mão, vez ou outra riscava a página. Me aproveitei da tarde chuvosa e me aninhei no sofá, cabeça sobre tua coxa e você descansou a mão na minha barriga.

Não demorei pra dormir. Acordei no finalzinho da tarde, com aquela minha fome simpática e com o corpo todo doído. Você dormia. Parecia meio desconsertado no sofá. Não roncava e não acordou quando eu me retirei – com toda delicadeza que encontrei – do seu colo. Fui na cozinha, comi duas ou três uvas. Não satisfeita, meti a mão no pote de bombons e peguei umas cinco gotinhas de Hershey’s.

Voltei pro teu colo, mas não consegui dormir outra vez. Olhei pros teus pés cruzados em cima do pufe e sorri ao ver tuas unhas cortadas. Sempre detestei unhas grandes e fico feliz que você tenha adquirido algumas manias minhas, amor. Saí do teu colo outra vez e peguei o Neruda que estava no braço do sofá. Achei bonitas as partes que você grifou, pensei se você usaria uma daquelas frases comigo. Te dei um beijo na bochecha e fiquei encostada em teu peito por um tempo. Pensei numas músicas bonitas, na tua toalha molhada em cima da cama, no teu cheiro que nunca havia chegado em casa diferente.

Lá pelas seis, te preparei um café e te acordei de mansinho. Você sorriu bonito ao olhar pra mim, se espreguiçou e pegou a caneca das minhas mãos. Passou seu braço em volta de mim, sussurrou no meu ouvido: “sonhei com você, meu amor”. Olhei nos teus olhos castanhos e pensei no quanto eu era feliz por ser tua nessas tardes preguiçosas de terça feira e em todos os outros dias da semana. 

30 de outubro de 2011

domingo

Domingo, 30 de outubro de 2011


Querida Ana,
boa tarde, meu amor. Como vai você? Hoje estou preguiçoso. Domingos dão uma preguiça, Ana.
Eu lembro mais ainda de você aos domingos. Te levar pra feirinha do Bom Jesus era a maior diversão da minha vida, só pra ver os seus olhos brilharem diante tanta coisa que você adorava. Você parecia criança entre aquelas bolhinhas de sabão. Apontava e falava dos vestidos e das fitas de cabelo, imaginava como você ficaria bonita vestida naquilo tudo.

Sempre comprávamos uma trufa, que você comia com o maior prazer do mundo. Depois de tanto ir e vir na feirinha, íamos descansar os pés na galeria ali do lado, naquela biblioteca de arte que você amava tanto. Perdi as contas das vezes que você me mostrava aqueles livros sobre Warhol e Duchamp.

Na volta, tomávamos um maltado enquanto fazíamos as mais belas declarações um ao outro e papeávamos sobre as coisas tolas. Saudades de suas coisas tolas, Ana.

Você se lembra disso tudo? Sinto saudades das tardes de domingo ao seu lado, Ana.
Volta.

chocolate no meu bolso

Eu não me importo em pagar 3 reais a mais,
só pra ter sempre guardado aquele chocolate que você adora.

27 de outubro de 2011

Querida Ana

Quinta feira, 27 de outubro de 2011

Querida Ana,

bom dia, meu amor. Como está você?
Aqui em Recife as coisas estão mais ou menos. Tenho andado insatisfeito com tudo, desde que você se foi, Ana. Tem dias que não dá vontade de sair da cama, de ver o sol. Eu lembro que você adorava me despertar de manhã bem cedo, pra ver o sol colorir o dia. Já tem um tempo que o sol não colore mais meus dias, meu amor.

Dia desses, lembrei daquela vez que fomos pescar. Lembra, Ana? Eu, você e o Kerouac. Eu lembro muito bem do seu sorriso após fechar o livro. Aquele sorriso que só você tem, que só você dá, quando termina um bom livro. Era um livro maravilhoso mesmo, Ana. O seu sorriso tinha motivo.

Motivos não tenho eu, pra sorrir. Você levou junto com você o meu sorriso, Ana.
Você faz falta pra caramba.
Quando você volta?

18 de outubro de 2011

das gratidões

Obrigada. Obrigada por tudo, mesmo. 
Obrigada por se fazer presente, por existir. 
Obrigada por me responder.
Obrigada pelas surpresas, pelas mudanças. 
Obrigada pelas tristezas e por todo o entendimento que veio com elas.
Obrigada pela vontade de chorar. Obrigada pelo choro incessante.
Obrigada pelas dificuldades. Obrigada pela culpa que eu sinto! 
Obrigada pelas vontades que eu tenho... 
Obrigada pelas pessoas especiais. 
Obrigada pelas decisões que fiz e pelas que eu não fiz. 
Obrigada, mesmo, por tudo.

10 de outubro de 2011

não me deixe pra depois

Acorda amor, que já virou um outro dia
A gente pode fazer tudo hoje.
Não me deixe pra depois
Sempre tenho um bom motivo pra nós dois

Highly Sensitive, Mallu Magalhães

9 de outubro de 2011

mi vida eres tu

Desenhei nas ruas um amor
Que já não sei se é real
Ou se não existe
E se eu sou triste, a causa é você
É só você

Vanguart

5 de outubro de 2011

Conversavam distraídos enquanto esperavam o ônibus. Eram ônibus diferentes, mas a parada era a mesma.
Esticou-se para ver o ônibus que se aproximava.

- O seu ônibus. -avisou.
Ele nem se mexeu.

- Você não vai?
O ônibus passou depressa pelos seus olhos. Ela não entendeu.

- Vou ficar com você até o seu ônibus chegar.

3 de outubro de 2011

cheia de espera(nça)

Eu esperei você vir falar comigo no bar, mas você não falou. Aí eu fui lá e falei com você. Tivemos uma conversa ótima! Me diverti à beça e ainda finalizamos com uma volta pela orla.

Eu esperei você ligar no dia seguinte, mas você não ligou. Esperei pelo resto da semana, aí então, eu liguei pra você. Saímos outra vez, nos divertimos ainda mais e o filme era ótimo. Você que pagou as duas entradas.

Eu esperei você me dar um beijo, mas você não deu. Esperei no terceiro, no quarto e no quinto encontro, aí eu te beijei enquanto tomávamos vinho. A única coisa pela qual não tive que esperar foi que você tomasse a iniciativa em me levar pra cama. Isso você fez rapidinho, e, muito bem, obrigada.

Eu esperei por você da última vez que combinamos de sair. Esperei, esperei e esperei. Te liguei algumas vezes, você não atendeu nenhuma delas. Você não apareceu, eu assisti ao filme sozinha. Eu chorei no filme inteiro e tive frio no cinema.

Você nunca mais veio, mas eu ainda te espero e te espero.

Eu vivo esperando esperar você.

30 de setembro de 2011

Geração coca-cola

Alguns nos chamam de “geração perdida”. Para embelezar, recebemos até nomes de letrinhas do alfabeto. Somos a Geração Y. Frutos de uma geração pós-ditadura.

Por esse motivo, fomos criados tendo que engolir todo tipo de lixo que nos era enfiado goela abaixo pelas grandes massas que regem nosso querido Brasil. Assim, desviando nossos olhos para o que realmente importa.

Somos desprovidos de conhecimento político, mas sabemos quem ganhou aquela última edição do Reality Show e estamos apostando no clássico do domingo. Somos mesquinhos e egoístas, e como somos! Diariamente, o capitalismo vem estuprando a nossa sociedade, mas, quem se importa? Temos Panis et Circenses!

Somos isentos de cultura, a não ser aquela velha e boa cultura de massa, enlatada, vinda diretamente from USA. Ah! Essa é tão fácil de ser encontrada.

Bagaceira! Onde está José Américo de Almeida, as bibliotecas, os museus e Tarsila do Amaral? E quem viu Glauber Rocha e seu cinema marginal?! Evaporaram. Ou nós evaporamo-los?

Não sabemos mais é de nada.

29 de setembro de 2011

Laís

Cinco horas da manhã e o sol pouco dava as caras. Laís dormia sob os meus lençóis. Olhei para ela, ela era tão bonita. Toda pequena e delicadinha. Sorri. Tinha em meus braços uma garota fantástica que não se incomodava em passar horas vendo filmes em preto e branco ou ouvindo The Who.

Lavei o rosto, preparei um café e fiquei observando o sol colorir o apartamento. Laís acordou, me encontrou na sala, ainda sonolenta e sentou-se no meu colo, sorriu pra mim, roubou o meu café. Naquele momento pensei que poderia dar a vida pela aquela mulher!
Como de costume, quando passava extensas temporadas em minha casa, Laís nos preparou um café da manhã e saiu para o trabalho. Pouco tempo depois, saí também. Voltei ao final do dia com o jantar. Hambúrgueres, os favoritos de Laís.

Laís não estava em casa, o que achei estranho. Mas, tempos depois, ela chegou. Perguntei o que tinha acontecido e ela disse que havia se enrolado no trabalho. Ofereci os hambúrgueres e ela disse que estava sem fome.
Foi ao banheiro, deixou o chuveiro por bastante tempo ligado e saiu de lá dizendo que ia embora, se desse voltava na próxima semana. Mas já?! Laís sempre dizia que adorava o tempo que passava aqui em casa. Resolvi não me opor.

Passaram-se os dias e Laís não aparecia. Não ligava, raramente atendia minhas ligações e pouco falava quando atendia. Havia algo de diferente na voz de Laís. Pensamentos avassaladores passavam pela minha cabeça. E uma súbita vontade de mandar Laís sumir de minha vida tomou conta de mim. Mas eu não podia fazer isso. Era Laís. Laís era excepcional. Laís era excepcional.

Dia, resolvi tomar satisfações. Fui até sua casa. Ela estava sozinha, lia Emily Brontë pela enésima vez. Perguntei o que estava acontecendo, porque ela estava agindo daquela maneira e se eu tinha feito algo errado. Ela me olhou com uma cara que misturava culpa e pena.

Disse que havia cansado. Cansou-se de mim. Que não era mais feliz ao meu lado e sentia um vazio. Laís se cansou de mim. Resolvi arriscar e pedi-la em casamento. Ela riu, riu um sorriso indecifrável e disse que não. Me deu um abraço e manteve os olhos no chão pelo curto tempo que fiquei ali, parado e sem ações.

Laís havia me deixado. Laís havia se cansado. Laís já não era mais minha, já não roubaria meus cafés nem sentaria no meu colo. Laís foi embora, escapou das minhas mãos sem eu nem perceber. Ela já tinha ido embora havia tempos.

28 de setembro de 2011

Dois na poltrona da frente

Observava distraída, dois velhinhos, bem velhinhos, de mão dadas, conversando nas primeiras fileiras do cinema. Achou bonito.
Hoje estava acompanhada, do amor de sua vida -assim julgava-, e estava tão feliz por isso.

- Amor?, ela interrompeu sua leitura. 
Ele olhou pra ela distraído. Ela se aconchegou nele e pensou em como estava feliz por tê-lo encontrado. 
- Será que vamos envelhecer juntos e viremos ao cinema, mesmo bem velhinhos?, indagou.
Ele olhou para os velhinhos, pegou forte na mão dela e sorriu. 
- Sem dúvidas, ele disse. 

19 de setembro de 2011

Retrato da mulher moderna

Soprou as trinta e sete velinhas do seu bolo. Estava ficando velha. Mal pode refletir sobre isso, mais uma rodada de Piña Colada chegava a sua mesa. Hoje o happy hour estava um saco. Já fazia um tempinho que o happy hour já não era mais happy.

Chegou em casa tarde. Hoje havia recebido tantos desejos de felicidades, esperava que realmente funcionassem. Sorriu e foi dormir. Acordou no meio do dia seguinte, com uma dor de cabeça fora de série. Preparou um café e um banho.

Enquanto se banhava, começou a refletir sobre esses trinta e sete anos de sua vida. Se sentiu só(rdida). Tinha vontade de se afogar naquelas gotinhas de água que caiam do chuveiro. Ela não tinha ninguém. Suas lágrimas somaram-se com as águas do banho. Salgadas.

Não importava que ela fosse a mulher mais respeitada da agência, nem que tivesse o carro mais caro do mercado e nem mesmo que transasse com o estagiário de vez em quando. Ela não era feliz. Tentou achar consolo na menina de vinte anos que ela foi um dia, aquela que fazia parte de um movimento feminista. Sorriu. Agora ela via que não fazia o tipo dela. Que toda aquela festinha comunista não passava de uma maneira de afogar as mágoas do grande amor da sua vida, que tinha ido embora.

Não que achasse impossível ser feliz ser ter alguém. Mas não era pra ela. Ela precisava de alguém. Precisava de dormir de conchinha e precisava de crianças correndo pela casa. Ela queria ser feliz. Estava cansada de ser quem era. A partir dali, seria uma mulher nova! Largaria a agência, iria viajar, conhecer lugares novos, um novo amor...

Em meio a planos pra o seu novo futuro, com o peito cheio de euforia, o celular tocou. Era o chefe dizendo que estava atrasada. Terminou o café e saiu correndo para o trabalho.

14 de setembro de 2011

bilhete pra quando amor chegar

Amor,

pela primeira vez não tô esperando você chegar. Eu fui embora, amor. Fui pra longe, onde a vista não alcança, onde você não vai me achar.
Fui embora porque precisava tirar um tempo pra mim. Chega de você, chega de nós, dessa vez vai ser só eu comigo mesma.
Vê se para de comer besteira. Dá uma maneirada no café e no uísque. Para de fumar, também. Vê se arruma uma namorada nova, e dessa vez, tenta não prestar tanta atenção nas outras mulheres na rua.
Olha mais nos olhos de quem você conversa. E leia mais poesia, amor! Faz tão bem...
Não pensa muito em mim. Talvez eu volte algum dia, mas, não me espere.

A camisa que você pediu, tá no armário.

11 de setembro de 2011

7 de setembro de 2011

a melhor noite da vida dela

Tinha sido a melhor noite da vida dela nos últimos 3 ou 4 anos.

Eles tinham assistido juntos ao último filme do Scorsese. Famintos, resolveram parar numa creperia, dessas que fica aberta até tarde. Dividiram dois crepes, um de queijo e outro de chocolate. Foram os melhores crepes que ela já havia experimentado. Dividiram uma coca de garrafa e agora estavam andando pela praia, que estava deserta, sem ninguém, só eles dois.
Derramavam longas conversas na areia da praia. Conversavam sobre a lua, que estava cheia, sobre as estrelas, sobre os barcos -lá longe, onde a vista quase não alcança. Era tudo tão bonito. Se pudesse, daria pausa na vida, bem ali, naquela cena.
Ele falava no quanto ela era linda. Sobre os seus olhos, sobre o seu sorriso, sobre sua pele. Tocava nela tão delicado, com aquelas mãos geladas.
E, por fim, a beijou. Finalizaram a noite assim, com um beijo. Um beijo bem bonito, digno de filme da década 20.

30 de agosto de 2011

meio completa

E lá estava sozinha no café. Lia Schopenhauer deliciada e parecia estar plena. E lá estava ele, curioso sem conseguir tirar os olhos da "Schopenhauerzinha". Se aproximou, pigarreou e ela nem sequer mexeu os olhos.

- Por que, você, tão linda, está sozinha? -perguntou enfim.
Ela olhou nos olhos dele e respondeu calmamente.
- Às vezes, a solidão é a melhor amiga do homem.

Não, aquilo não era um fora. Parecia mais um convite para sentar ali com ela, e foi isso mesmo que ele entendeu. Sentou-se sem cerimônias, ela achou engraçado e riu pra dentro.

Conversaram sobre Schopenhauer, e Hegel, e Nietzsche, e Freud, e Deus. Sobre João Gilberto, Truffaut e Bradbury. Trocaram email, telefone e Facebook.

Se despediram com um abraço e, de olhos nos olhos, acharam sua metade, cada um.

9 de agosto de 2011

Tom,

Depois que você chegou, por aqui é só alegria! Dormimos cantando e acordamos cantando. É impressionante a forma como você me faz feliz, seja com um sorriso pela manhã ou quando você me enche de beijinhos pelo resto do dia, você está sempre me fazendo contente.

E a melhor parte, Tom, é que eu nunca me sinto só, ou vazia; você está sempre ao meu lado, e assim, nos completamos. Isso é ótimo, Tom! É maravilhoso ter você aqui, comigo.

8 de agosto de 2011

A última vez que vi Érica

A primeira vez que vi Érica, estava chapado demais para reparar noutra coisa que não fossem seus peitos. Joguei uma de minhas cantadas vagabundas, mas logo parei de insistir, saindo atrás de novos peitos e bundas.

Vi Érica uma segunda vez na casa de um amigo. Me contaram de minha mau sucessão algumas noites antes e ainda sim, não desanimei e resolvi me aproximar. Nem precisei conversar muito pra que Érica se encontrasse nos meus braços enquanto eu a enchia de beijos.

Ela falava muito pouco, quase nada e o pouco que conversava era sobre a psicanálise de Freud. Mas Érica encantava a qualquer um; fosse discutindo Freud ou fosse pelos seus cachos e seu corpão, que deixava qualquer um boquiaberto. Érica era linda.

Ela nunca deixava nossos olhos se cruzarem, nem mesmo quando estávamos na cama. Com o tempo, continuava a falar pouco e sofria de variações constantes de humor. Mas, quase sempre me esperava em casa com um ou dois fumos prontinhos. Adorava isso!

Numa noite qualquer, discutíamos muito e entre lágrimas e acusações injustas de Érica contra mim, resolvi sair e só voltar quando ela estivesse mais calma.

Já estava tarde e a Real da Torre, assim como eu, estava vazia. Andei um pouco, por aqui e por ali. Logo voltei pra casa, pensando em dar um beijo em Érica e esquecer toda aquela confusão.

Quando cheguei, Érica estava dormindo, a caixa de Valium ao lado e o copo d’água, como de costume. Dei um beijo em sua bochecha fria e me deitei ao seu lado.

31 de maio de 2011

15 de maio de 2011

não

eu não quero escrever sobre amor pra você
eu não quero cantar
tudo belo que há

O românico em mim - Caravana do Delírio

10 de maio de 2011

(para Tom)

Hoje eu não tive um dia bom, Tom.
Hoje eu me senti tão só, tão vazia. Não é bom se sentir só. Ninguém gosta de se sentir sozinho no mundo. Todo mundo tem carência, e eu então...
Também senti sua falta, Tom. Uma pena que a lentidão do mundo nos impeça de viver juntinhos. Aí sim, eu nunca ia me sentir só.

E cá fico eu e aí fica você, esperando até o dia em que a gente vai se encontrar pra tocar a nossa vida.
Ah! Você não vai escapar de mim nesse dia, Tom! Vou te encher de beijinhos e mimos, não vou te soltar por um segundo sequer.
Amo tanto você!

18 de março de 2011

A época mais distante

Me sirvo de mais um copo de vinho e dou mais uma tragada no último cigarro do maço. Devo estar dormindo ou quase isso. Devo estar dormindo com ratos. As imagens da minha infância começam a surgir na minha cabeça. É a primeira vez que estou bêbado e não penso em mulher. Não devo estar bêbado.

Minha lembrança mais antiga da infância é de meu pai. Meu pai tirando o cinto e gritando comigo por eu ter mexido na máquina de costura da minha mãe. Eu tinha uns seis anos. Meu pai nunca foi meu herói.

Tinhamos poucos momentos felizes. Lembrei de uma das raras vezes em que fomos à praia. Meu pai gostava da praia e lá, era uma pessoa completamente diferente do que era em casa. Brincamos na água, jogamos bola e ele me pagou um picolé. Até hoje me lembro do sabor, era de menta. Por esses e outros poucos e bons momentos eu sentia falta de ser criança.

O tempo passava rápido e logo me vi crescido. Nunca tive muitos amigos e muito menos, namoradas. E sempre fui o mais caçoado da turma por ser péssimo em futebol. Passava a maioria do meu tempo lendo ou ouvindo sermões do meu pai.

Da minha adolescência, a melhor lembrança é a de quando eu ganhei uma máquina de escrever. Eu era bom com as palavras, podia me tornar um grande escritor ou qualquer coisa assim. Eu gostava muito de escrever quando era moleque.

Certa vez, meu pai leu um dos meus textos. Ele não gostou. Disse que era um texto que não transmitia nada de bom à ninguém e me mandou seguir carreira no exército, que como escritor eu não ia dar em nada. Talvez ele estivesse certo.

E por fim, me tornei velho demais para depender dos meus pais. Me arrumei escrevendo para pequenos jornalistas locais, que usavam seus nomes em minhas matérias, ganhando pagamentos miseráveis, impossíveis de me garantir uma vida descente. E cá estou, morando num buraco imundo, cercado de garrafas vazias de vinho, bitucas de cigarros e ratos. Me tornando tudo que meu pai não quis que eu fosse.

24 de fevereiro de 2011

Diálogo com Beatriz na espera do ônibus

Ele levantou-se e declarou que ia embora.
- Mas já? Você acabou de chegar!
- Preciso ir. -mentira, ele não precisava ir.
- Fique um pouco mais e continue a me falar de Kafka. O próximo ônibus vai demorar a chegar. -menti.
Ele hesitou um pouco
- Tudo bem, peça mais um café e eu continuarei falando.
Pedimos mais um café e ele continuou falando sobre Kafka, que havia lido recentemente.
- Enfim, ele é inacreditável. -concluiu. -Agora, preciso ir, Beatriz.
Sem mais desculpas para fazer com que ele continuasse ali, o deixei ir.

Deixar com que ele fosse embora era uma das coisas mais difíceis a se fazer. Gostava de tê-lo por perto.
Eu não sei se ele pensava assim de mim também.

3 de fevereiro de 2011

Dia 3

Acordo cedo e olho pra ele esparramado na minha cama como se fosse sua própria cama.
Eu cansei de dele. Cansei de vê-lo deitado na minha cama, cansei dele assistindo futebol na minha tv e cansei dele tomando o meu sorvete. Aliás, por que é que ele gosta de sorvete? Isso é tão feminino.

Mas, por algum motivo, que eu mesma desconheço, não posso mandá-lo embora. Talvez seja porque eu precise dele para fazer algumas coisas que eu não posso fazer sozinha.

Elimino todo e qualquer pensamento sobre ele e vou até à cozinha. Na cafeteira ainda tem café. Café de ontem, café frio. Pego uma caneca no armário e despejo todo o café nela e levo ao microondas.

Enquanto tomo o café, agora quente, olho para a pilha de pratos sujos na pia. Apesar de sujos, a louça é branca. Eu cansei de louça branca. Que tipo de pessoa utiliza pratos brancos?

Há um espelho na sala. Eu olho meu reflexo. Cansei da minha cara, cansei do meu cabelo, cansei dos meus olhos e cansei dos meus peitos tamanho 42. Cansei de mim.

Quando vim morar sozinha, aprendi que é indispensável ter chocolates em casa. Há muito tempo não compro ou como chocolates.

E então, vou até a varanda. Me inclino no parapeito. A liberdade me parece convidativa. O voo me parece convidativo, vida sem monotonias ou saco cheio. Quero conhecer Nietzsche mais de perto no inferno.

- Eu adoro essa calcinha. -ouvi ele falar, então, me virei.

26 de janeiro de 2011

Quando eu era Lily Braun

Eu já fui borboleta, já fui Júlia, já fui Camila, já fui Clara e já fui Beatriz. Mas, de todas que já fui, a que mais gostei de ser foi Lily Braun.
Lily Braun não tinha segredos, não tinha mentiras e sorria de verdade. Lily Braun não sabia o quanto que era feliz. E quando era convidada pra sair, não precisava de mais nada.
Lily Braun sonhava... Adorava sonhar! Sonhava com coisas simples, mas tão belas.
Lily Braun tinha amigos, pai, mãe e uma boa reputação. O nome de Lily Braun nunca era desagradável de mencionar.
Lily Braun não podia voar e Lily Braun sabia disso.
Ai, que saudades eu tenho de ser Lily Braun.

Hoje, sou o que sobrou de todas que já fui um dia e sou também, grande parte de mim.

E sabe, crescer não é tão fácil como Lily Braun achou que fosse.

Sem título

Sete horas da manhã. Tomou um gole de café e acendeu o primeiro cigarro do dia. Precisava de um texto. Um conto, narrativa de fatos. Precisava viver fatos para escrever um conto. Um texto qualquer.

32 anos. Jornalista. Solteira.

Em pensar que aos 15, o futuro que esperava não era esse. Não todo esse. Jornalismo sempre fora uma aspiração. E o casamento também. Terminou que se dedicou demais. E não viveu nada do que queria. Lembrou-se de um texto que escreveu, sobre uma mulher que largava o marido e os filhos para se entregar a um amor aventureiro. Dera ela ter vivido isso. Dera ela ter a opção de escolher um dos dois. Dera ela ter a quem se entregar.

Uma longa tragada. Um suspiro. Olhou para alguns papéis na mesa. Contos já publicados nos folhetins do domingo. Todos sobre amor. Todos eram mentiras. Talvez, por tanto mentir sobre isso, tivesse parado de acreditar no amor. O que é irônico. Talvez nunca houvesse realmente amado. Talvez nunca houvesse sido realmente amada. E amores de adolescência não contavam.

Enquanto acendia o segundo cigarro, notou uma caixa velha em cima da estante. Com dificuldade a pegou. Nada demais, apenas páginas escritas por uma pequena menina que nada sabia sobre a vida. E ela, sabia? Talvez a menina, por sonhar, soubesse mais. Muito mais. Eram páginas cheias de sonhos, cheias de esperanças. Era ela, há um tempo. E da esperança, ainda restava um fio.

Respirou coragem e fumaça. Foi até o guarda-roupa, e tirou o seu vestido decotado, cheirando a naftalina. Lavou e engomou o vestido, que ficou esperando a noite chegar. No fim da tarde, tomou banho, penteou o cabelo, e se perfumou. Olhou-se no espelho. Desde quando aquelas rugas estavam ali? Nem havia notado. Passou mais pó do que o normal. E então, ousou colocar o vestido. Não ficou tão bom, quanto da ultima vez que ela o usou, mas ela não se incomodou. Saiu de casa, e foi em direção ao único bar que conhecia freqüentado por homens desacompanhados.

No meio de todas aquelas mocinhas sem virgindade, era página virada. Respirou mais uma vez. Coragem, cigarro e álcool. Sentou-se no balcão sem fazer pedido algum, acendeu um cigarro e esperou. Nada aconteceu. Nem na primeira, nem na segunda, nem na terceira noite. Terminou mentindo em mais um conto de domingo.

Depois de muitas noites, quase que desistindo e usando um vestido gasto, ela sentou-se no balcão mais uma vez, à espera de uma verdade. Acendeu um cigarro. E alguém perguntou o seu nome.

8 de janeiro de 2011

Natasha

Fazia frio. Um frio do caramba, pra falar a verdade. Era um daqueles dias que Recife só tem uma ou duas vezes ao ano. E ela estava um tanto que nervosa. Era jogo do Brasil. A estréia do Brasil na Copa deste ano. Ela nem gostava de futebol, mas aceitou assistir o jogo com ele mesmo assim. Ela gostava era dele. Então ela foi. Escolheu uma camiseta amarela e pôs um moleton verde por cima. Tradicionalmente. Ela não estava muito bonita. Ela nem era muito bonita. Mas mesmo assim…

Marcaram de se encontrar às duas. Embaixo do prédio dela. Ela o cumprimentou com uma abraço meio confuso. De lá, foram andando até um barzinho. Era um daqueles bares velhos, com cadeiras de madeiras, azuleijos coloridos e uma televisão enorme. E em conseqüencia da época, também estava enfeitado com bandeirinhas de São João verdes e amarelas.

“Que carnavalesco” —pensou.

Sentaram numa mesa com outros caras. Ele cumprimentou os outros de uma forma esquisita com as mãos e sentou numa cadeira, ao lado de outra cadeira vazia. Ela sentou-se ao seu lado. Ele sorriu pra ela, e ela sorriu pra ele. Ele apostava com os outros caras o resultado do jogo. Ela estava entediada.

Sua namorada? —perguntou um dos caras.

Não, não… —ele respondeu, sugestivo.

Bonita. —ao ouvir, ela ficou corada.

Finalmente a partida havia começado. Ela não entendia muito de futebol, mas sabia que o jogo tava uma merda… No fim do primeiro tempo, os garotos estavam putos. Xingaram Dunga e tudo que era relacionado a ele. Segundo tempo. Antes de começar, ele alertou:

Se o Brasil perder essa porra, eu viro uma Natasha todinha! —parou por um minuto e disse mais alguma coisa. —Não! Viro duas!

Ela não fazia a menor ideia do que era “Natasha”.

O jogo ia um pouco melhor… E então, a bola, inesperadamente entra na rede. E todo o bar vibra! Ela vibra junto. Ele vibra com ela. Ele a beija. Ela, acanhada, senta no seu lugar e sorri intimamente até o fim da partida. Sorri no segundo gol brasileiro, e até no único gol coreano. Ela simplesmente sorri. No fim da partida, todos os caras estavam bêbados, ou quase isso. Ele resolve leva-la para casa. No caminho, uma dúvida.

O que é Natasha? —ela pergunta.

Vodca. —ele responde... E a beija.

4 de janeiro de 2011

Vinis ao sol

Da última vez em nos encontramos, passeamos pelo centro da cidade, comemos sonho de padaria e ficamos olhando alguns discos de vinil cobertos pelo sol.
Foi uma tarde divertida, daquelas pra nunca mais.

Agora, essa tarde fica na lembrança. Naquele canto onde só as lembranças boas ficam.

Estou morrendo de saudades de você.