30 de setembro de 2011

Geração coca-cola

Alguns nos chamam de “geração perdida”. Para embelezar, recebemos até nomes de letrinhas do alfabeto. Somos a Geração Y. Frutos de uma geração pós-ditadura.

Por esse motivo, fomos criados tendo que engolir todo tipo de lixo que nos era enfiado goela abaixo pelas grandes massas que regem nosso querido Brasil. Assim, desviando nossos olhos para o que realmente importa.

Somos desprovidos de conhecimento político, mas sabemos quem ganhou aquela última edição do Reality Show e estamos apostando no clássico do domingo. Somos mesquinhos e egoístas, e como somos! Diariamente, o capitalismo vem estuprando a nossa sociedade, mas, quem se importa? Temos Panis et Circenses!

Somos isentos de cultura, a não ser aquela velha e boa cultura de massa, enlatada, vinda diretamente from USA. Ah! Essa é tão fácil de ser encontrada.

Bagaceira! Onde está José Américo de Almeida, as bibliotecas, os museus e Tarsila do Amaral? E quem viu Glauber Rocha e seu cinema marginal?! Evaporaram. Ou nós evaporamo-los?

Não sabemos mais é de nada.

29 de setembro de 2011

Laís

Cinco horas da manhã e o sol pouco dava as caras. Laís dormia sob os meus lençóis. Olhei para ela, ela era tão bonita. Toda pequena e delicadinha. Sorri. Tinha em meus braços uma garota fantástica que não se incomodava em passar horas vendo filmes em preto e branco ou ouvindo The Who.

Lavei o rosto, preparei um café e fiquei observando o sol colorir o apartamento. Laís acordou, me encontrou na sala, ainda sonolenta e sentou-se no meu colo, sorriu pra mim, roubou o meu café. Naquele momento pensei que poderia dar a vida pela aquela mulher!
Como de costume, quando passava extensas temporadas em minha casa, Laís nos preparou um café da manhã e saiu para o trabalho. Pouco tempo depois, saí também. Voltei ao final do dia com o jantar. Hambúrgueres, os favoritos de Laís.

Laís não estava em casa, o que achei estranho. Mas, tempos depois, ela chegou. Perguntei o que tinha acontecido e ela disse que havia se enrolado no trabalho. Ofereci os hambúrgueres e ela disse que estava sem fome.
Foi ao banheiro, deixou o chuveiro por bastante tempo ligado e saiu de lá dizendo que ia embora, se desse voltava na próxima semana. Mas já?! Laís sempre dizia que adorava o tempo que passava aqui em casa. Resolvi não me opor.

Passaram-se os dias e Laís não aparecia. Não ligava, raramente atendia minhas ligações e pouco falava quando atendia. Havia algo de diferente na voz de Laís. Pensamentos avassaladores passavam pela minha cabeça. E uma súbita vontade de mandar Laís sumir de minha vida tomou conta de mim. Mas eu não podia fazer isso. Era Laís. Laís era excepcional. Laís era excepcional.

Dia, resolvi tomar satisfações. Fui até sua casa. Ela estava sozinha, lia Emily Brontë pela enésima vez. Perguntei o que estava acontecendo, porque ela estava agindo daquela maneira e se eu tinha feito algo errado. Ela me olhou com uma cara que misturava culpa e pena.

Disse que havia cansado. Cansou-se de mim. Que não era mais feliz ao meu lado e sentia um vazio. Laís se cansou de mim. Resolvi arriscar e pedi-la em casamento. Ela riu, riu um sorriso indecifrável e disse que não. Me deu um abraço e manteve os olhos no chão pelo curto tempo que fiquei ali, parado e sem ações.

Laís havia me deixado. Laís havia se cansado. Laís já não era mais minha, já não roubaria meus cafés nem sentaria no meu colo. Laís foi embora, escapou das minhas mãos sem eu nem perceber. Ela já tinha ido embora havia tempos.

28 de setembro de 2011

Dois na poltrona da frente

Observava distraída, dois velhinhos, bem velhinhos, de mão dadas, conversando nas primeiras fileiras do cinema. Achou bonito.
Hoje estava acompanhada, do amor de sua vida -assim julgava-, e estava tão feliz por isso.

- Amor?, ela interrompeu sua leitura. 
Ele olhou pra ela distraído. Ela se aconchegou nele e pensou em como estava feliz por tê-lo encontrado. 
- Será que vamos envelhecer juntos e viremos ao cinema, mesmo bem velhinhos?, indagou.
Ele olhou para os velhinhos, pegou forte na mão dela e sorriu. 
- Sem dúvidas, ele disse. 

19 de setembro de 2011

Retrato da mulher moderna

Soprou as trinta e sete velinhas do seu bolo. Estava ficando velha. Mal pode refletir sobre isso, mais uma rodada de Piña Colada chegava a sua mesa. Hoje o happy hour estava um saco. Já fazia um tempinho que o happy hour já não era mais happy.

Chegou em casa tarde. Hoje havia recebido tantos desejos de felicidades, esperava que realmente funcionassem. Sorriu e foi dormir. Acordou no meio do dia seguinte, com uma dor de cabeça fora de série. Preparou um café e um banho.

Enquanto se banhava, começou a refletir sobre esses trinta e sete anos de sua vida. Se sentiu só(rdida). Tinha vontade de se afogar naquelas gotinhas de água que caiam do chuveiro. Ela não tinha ninguém. Suas lágrimas somaram-se com as águas do banho. Salgadas.

Não importava que ela fosse a mulher mais respeitada da agência, nem que tivesse o carro mais caro do mercado e nem mesmo que transasse com o estagiário de vez em quando. Ela não era feliz. Tentou achar consolo na menina de vinte anos que ela foi um dia, aquela que fazia parte de um movimento feminista. Sorriu. Agora ela via que não fazia o tipo dela. Que toda aquela festinha comunista não passava de uma maneira de afogar as mágoas do grande amor da sua vida, que tinha ido embora.

Não que achasse impossível ser feliz ser ter alguém. Mas não era pra ela. Ela precisava de alguém. Precisava de dormir de conchinha e precisava de crianças correndo pela casa. Ela queria ser feliz. Estava cansada de ser quem era. A partir dali, seria uma mulher nova! Largaria a agência, iria viajar, conhecer lugares novos, um novo amor...

Em meio a planos pra o seu novo futuro, com o peito cheio de euforia, o celular tocou. Era o chefe dizendo que estava atrasada. Terminou o café e saiu correndo para o trabalho.

14 de setembro de 2011

bilhete pra quando amor chegar

Amor,

pela primeira vez não tô esperando você chegar. Eu fui embora, amor. Fui pra longe, onde a vista não alcança, onde você não vai me achar.
Fui embora porque precisava tirar um tempo pra mim. Chega de você, chega de nós, dessa vez vai ser só eu comigo mesma.
Vê se para de comer besteira. Dá uma maneirada no café e no uísque. Para de fumar, também. Vê se arruma uma namorada nova, e dessa vez, tenta não prestar tanta atenção nas outras mulheres na rua.
Olha mais nos olhos de quem você conversa. E leia mais poesia, amor! Faz tão bem...
Não pensa muito em mim. Talvez eu volte algum dia, mas, não me espere.

A camisa que você pediu, tá no armário.

11 de setembro de 2011

7 de setembro de 2011

a melhor noite da vida dela

Tinha sido a melhor noite da vida dela nos últimos 3 ou 4 anos.

Eles tinham assistido juntos ao último filme do Scorsese. Famintos, resolveram parar numa creperia, dessas que fica aberta até tarde. Dividiram dois crepes, um de queijo e outro de chocolate. Foram os melhores crepes que ela já havia experimentado. Dividiram uma coca de garrafa e agora estavam andando pela praia, que estava deserta, sem ninguém, só eles dois.
Derramavam longas conversas na areia da praia. Conversavam sobre a lua, que estava cheia, sobre as estrelas, sobre os barcos -lá longe, onde a vista quase não alcança. Era tudo tão bonito. Se pudesse, daria pausa na vida, bem ali, naquela cena.
Ele falava no quanto ela era linda. Sobre os seus olhos, sobre o seu sorriso, sobre sua pele. Tocava nela tão delicado, com aquelas mãos geladas.
E, por fim, a beijou. Finalizaram a noite assim, com um beijo. Um beijo bem bonito, digno de filme da década 20.