23 de maio de 2010

dilema

Minha vida, minhas concepções
Sempre duvidei que você aceitaria
Sua intolerância me faz cada vez mais
Um refém de mim mesmo


Vivendo do Ócio

21 de maio de 2010

Bob Dylan, café, cigarros e atravessar a rua correndo

Acordei cedo. O Rio Capibaribe sorria para mim. Eu não sorri de volta. O vento soprou forte e as cadeiras de plástico estremeceram na varanda do sexto andar.

Coloquei água no fogão e esperei até que ela fervesse. Pus duas colherinhas de café solúvel na xícara cheia de água quente.

Merda. O café estava muito quente. Minha língua foi tomada por bolhinhas –que vieram a me incomodar mais tarde. Desisti do café. Procurei minha carteira de cigarros... Vazia. Que merda! Porque eu não comprei cigarros na noite anterior?

Vesti uma camiseta qualquer e fui pegar o elevador. Demorou a chegar. Lento e velho, nossa descida era sacolejante e perturbadora. Tinha a sensação que eu poderia morrer a qualquer instante ali dentro.

A rua estava vazia, exceto por alguns lojistas que abriam suas lojas. Havia um posto 24h na esquina da outra rua, provavelmente encontraria meus cigarros por lá.

Caminhava distraído pelas calçadas imundas da cidade, e assim, distraído, fui atravessar a rua. De repente, vejo um carro vindo em minha direção correndo descontroladamente. Reuni todas as minhas forças matinais e atravessei a rua correndo o mais rápido que poderia. O motorista –que quase me tirava a vida –era um garoto, provavelmente bêbado, que colidiu num poste em seguida.

Os poucos que transitavam pela rua, correram imediatamente em direção ao carro destruído. Eu continuei andando, a fim de comprar os malditos cigarros e voltar para casa. Finalmente, comprei uma carteira de cigarros, teria acendido um lá mesmo, se eu não tivesse esquecido o isqueiro.

Na volta para casa, passei em frente ao acidente. O garoto, estava estirado no chão, ensangüentado. Uma mulher gritava desesperadamente para que chamassem uma ambulância. Um outro homem, dizia que o garoto estava (quase) morto. E estava.

Resolvi seguir caminho para casa. Passei pelas mesmas calçadas imundas outra vez. Tomei o mesmo elevador sacolejante e perturbador, e por fim, cheguei em casa.

Procurei o isqueiro e acendi o meu cigarro. Esquentei água novamente. Preparei o meu café. Não estava quente demais dessa vez. Liguei o som num volume razoável, para mim e para os meus vizinhos. Tocava Bob Dylan.

Olhei novamente para o rio. Ele ainda sorria para mim. Sorri de volta. E mais adiante, pude observar um garoto (quase) morto, enquanto eu curtia Bob Dylan, café e cigarros.

16 de maio de 2010

sempre me apaixono rápido demais...
sempre espero coisas demais.
coisas que nunca vêm.
um beijo que nem existe.
um carinho, um afago, teu.
toques e cheiros. sonhos.
sempre me apaixono rápido demais...

15 de maio de 2010

Sexta -feira, 14

São cinco e meia da tarde. Exatamente isso. Estou sozinha em casa, o meu pai foi levar meu irmão à abertura dos jogos internos do meu colégio. Eu não vou. Não estou com a mínima vontade de ir. Todas as minhas amigas vão, e provavelmente passarão o resto da semana dizendo o quanto que foi bom. Mas e daí?
Cinco e meia da tarde, e faz um calor do inferno. Na verdade, fez um calor do inferno durante toda a tarde. Mas minha tarde não foi ruim. Não completamente. Meu computador não estava pegando, fiquei maluca. Tive idéias para maravilhosas histórias... Eu poderia ter pegado papel e lápis. É, eu poderia. Mas não o fiz. Ao invés disso, fui assistir a filmes e tomar sorvete. Acho que as tardes de sexta-feira são completamente propicias a esse tipo de coisa. Eu não tenho uma vida social agitada. Costumava ter. Nunca estava em casa nas sextas...
Agora, são cinco e trinta e cinco. Exatamente isso. Se passaram cinco minutos desde que eu comecei a jorrar palavras nesse teclado. Gosto de fazer isso. Gosto muito. Alguns dizem que eu faço isso bem. É mentira. Eu não acho. Nem eles.
Não é possível você fazer algo bom, sem ter a menor noção do que faz. É o que eu faço. Escrevo sem rumo. Perco a linha. Sempre.
Agora, são cinco e quarenta. Exatamente isso. Já se passaram dez minutos que eu estou sentada em frente ao meu computador numa cadeira desconfortável. Já se passaram dez minutos que estou jorrando palavras no teclado. Palavras ao léu. Completamente sem sentido... A verdade, é que eu não deveria estar aqui. Já são quase seis da tarde, e está na hora de colocar a pizza no forno. Volto já.

2 de maio de 2010

Freiras Lésbicas Assassinas

Só eu e ele. Eu, ele e aquela 38. Ele dormia. Seria fácil. Seria como nos filmes. Eu atirava e ele morria. Não importavam as conseqüências. Ele estaria morto. Em breve. As minhas mãos suavam.

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Não me recordo o ano. A verdade, é que eu nunca quis ser freira. Causa duma promessa, feita por minha mãe. Maldita promessa. Aos 7 anos, entrei naquele convento. E até fiz algumas amigas.

Na adolescência, estávamos com os hormônios à flor da pele. Não queríamos aquela virgindade eterna. Queríamos curtir os prazeres da vida, sabe como é. O jeito para acabar com esses desejos e carências era trocar certas intimidades entre nós mesmas. Mantínhamos aquilo em segredo da Madre Superiora.

Até que um dia, ele estava numa de suas visitas casuais pelo convento. Era um padre, na época, recém saído do seminário. Tinha os olhos maus. Observava-nos, desejando algo. De nós.

Eu e minha amiga estávamos num de nossos momentos mais íntimos e sensuais, nós não estávamos sabendo daquela visita do padre. Se soubéssemos, jamais estaríamos fazendo aquilo, naquela hora, naquele lugar.

A porta abriu-se bruscamente. Paramos depressa com o que estávamos fazendo e viramo-nos para ver quem estava ali, pois todos deveriam estar rezando o terço naquele momento. Menos nós, Freiras Lésbicas. Vimos então, o padre parado a porta. Ele a trancou e se aproximou de nós, furioso.

Puxou minha amiga pelo cabelo e disse-lhe para não gritar. Deu-lhe uma surra e em seguida abriu o zíper da calça que estava usando.

“É isso que vocês querem?”

Observava tudo aquilo chocada. Recuei, corri até a porta, destranquei e saí correndo, desesperada. Porém, estava convicta de uma coisa. Ele morreria.

E agora, estávamos sozinhos naquele quarto da paróquia. Só eu, ele e a 38. Hora da vingança, padre.

Mirei a arma bem no meio de sua testa.

Ave Maria, cheia de graça. Rogai por nós, pecadores. Fechei os olhos. Amém.

Apertei no gatilho. Um tiro seco. Sangue. Um padre morto e eu, uma freira lésbica assassina.