19 de setembro de 2011

Retrato da mulher moderna

Soprou as trinta e sete velinhas do seu bolo. Estava ficando velha. Mal pode refletir sobre isso, mais uma rodada de Piña Colada chegava a sua mesa. Hoje o happy hour estava um saco. Já fazia um tempinho que o happy hour já não era mais happy.

Chegou em casa tarde. Hoje havia recebido tantos desejos de felicidades, esperava que realmente funcionassem. Sorriu e foi dormir. Acordou no meio do dia seguinte, com uma dor de cabeça fora de série. Preparou um café e um banho.

Enquanto se banhava, começou a refletir sobre esses trinta e sete anos de sua vida. Se sentiu só(rdida). Tinha vontade de se afogar naquelas gotinhas de água que caiam do chuveiro. Ela não tinha ninguém. Suas lágrimas somaram-se com as águas do banho. Salgadas.

Não importava que ela fosse a mulher mais respeitada da agência, nem que tivesse o carro mais caro do mercado e nem mesmo que transasse com o estagiário de vez em quando. Ela não era feliz. Tentou achar consolo na menina de vinte anos que ela foi um dia, aquela que fazia parte de um movimento feminista. Sorriu. Agora ela via que não fazia o tipo dela. Que toda aquela festinha comunista não passava de uma maneira de afogar as mágoas do grande amor da sua vida, que tinha ido embora.

Não que achasse impossível ser feliz ser ter alguém. Mas não era pra ela. Ela precisava de alguém. Precisava de dormir de conchinha e precisava de crianças correndo pela casa. Ela queria ser feliz. Estava cansada de ser quem era. A partir dali, seria uma mulher nova! Largaria a agência, iria viajar, conhecer lugares novos, um novo amor...

Em meio a planos pra o seu novo futuro, com o peito cheio de euforia, o celular tocou. Era o chefe dizendo que estava atrasada. Terminou o café e saiu correndo para o trabalho.

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