8 de janeiro de 2011

Natasha

Fazia frio. Um frio do caramba, pra falar a verdade. Era um daqueles dias que Recife só tem uma ou duas vezes ao ano. E ela estava um tanto que nervosa. Era jogo do Brasil. A estréia do Brasil na Copa deste ano. Ela nem gostava de futebol, mas aceitou assistir o jogo com ele mesmo assim. Ela gostava era dele. Então ela foi. Escolheu uma camiseta amarela e pôs um moleton verde por cima. Tradicionalmente. Ela não estava muito bonita. Ela nem era muito bonita. Mas mesmo assim…

Marcaram de se encontrar às duas. Embaixo do prédio dela. Ela o cumprimentou com uma abraço meio confuso. De lá, foram andando até um barzinho. Era um daqueles bares velhos, com cadeiras de madeiras, azuleijos coloridos e uma televisão enorme. E em conseqüencia da época, também estava enfeitado com bandeirinhas de São João verdes e amarelas.

“Que carnavalesco” —pensou.

Sentaram numa mesa com outros caras. Ele cumprimentou os outros de uma forma esquisita com as mãos e sentou numa cadeira, ao lado de outra cadeira vazia. Ela sentou-se ao seu lado. Ele sorriu pra ela, e ela sorriu pra ele. Ele apostava com os outros caras o resultado do jogo. Ela estava entediada.

Sua namorada? —perguntou um dos caras.

Não, não… —ele respondeu, sugestivo.

Bonita. —ao ouvir, ela ficou corada.

Finalmente a partida havia começado. Ela não entendia muito de futebol, mas sabia que o jogo tava uma merda… No fim do primeiro tempo, os garotos estavam putos. Xingaram Dunga e tudo que era relacionado a ele. Segundo tempo. Antes de começar, ele alertou:

Se o Brasil perder essa porra, eu viro uma Natasha todinha! —parou por um minuto e disse mais alguma coisa. —Não! Viro duas!

Ela não fazia a menor ideia do que era “Natasha”.

O jogo ia um pouco melhor… E então, a bola, inesperadamente entra na rede. E todo o bar vibra! Ela vibra junto. Ele vibra com ela. Ele a beija. Ela, acanhada, senta no seu lugar e sorri intimamente até o fim da partida. Sorri no segundo gol brasileiro, e até no único gol coreano. Ela simplesmente sorri. No fim da partida, todos os caras estavam bêbados, ou quase isso. Ele resolve leva-la para casa. No caminho, uma dúvida.

O que é Natasha? —ela pergunta.

Vodca. —ele responde... E a beija.

Nenhum comentário: