Preciso parar de dormir nas tardes preguiçosas de terça feira à custa do teu colo vago. Ontem foi meio assim, amor. Você lia seu Neruda com um lápis na mão, vez ou outra riscava a página. Me aproveitei da tarde chuvosa e me aninhei no sofá, cabeça sobre tua coxa e você descansou a mão na minha barriga.
Não demorei pra dormir. Acordei no finalzinho da tarde, com aquela minha fome simpática e com o corpo todo doído. Você dormia. Parecia meio desconsertado no sofá. Não roncava e não acordou quando eu me retirei – com toda delicadeza que encontrei – do seu colo. Fui na cozinha, comi duas ou três uvas. Não satisfeita, meti a mão no pote de bombons e peguei umas cinco gotinhas de Hershey’s.
Voltei pro teu colo, mas não consegui dormir outra vez. Olhei pros teus pés cruzados em cima do pufe e sorri ao ver tuas unhas cortadas. Sempre detestei unhas grandes e fico feliz que você tenha adquirido algumas manias minhas, amor. Saí do teu colo outra vez e peguei o Neruda que estava no braço do sofá. Achei bonitas as partes que você grifou, pensei se você usaria uma daquelas frases comigo. Te dei um beijo na bochecha e fiquei encostada em teu peito por um tempo. Pensei numas músicas bonitas, na tua toalha molhada em cima da cama, no teu cheiro que nunca havia chegado em casa diferente.
Lá pelas seis, te preparei um café e te acordei de mansinho. Você sorriu bonito ao olhar pra mim, se espreguiçou e pegou a caneca das minhas mãos. Passou seu braço em volta de mim, sussurrou no meu ouvido: “sonhei com você, meu amor”. Olhei nos teus olhos castanhos e pensei no quanto eu era feliz por ser tua nessas tardes preguiçosas de terça feira e em todos os outros dias da semana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário