14 de março de 2010

Ela vestiu um vestido branco. Mostrou para a mãe, que não gostou. Vestiu-se novamente. Curto demais. A mãe reclamou que ela só ia pra igreja vestida como a "desgraçada das desgraçadas".
Que diferença fazia? Desde quando ir a igreja exigia uma roupa requintada? Nem mesmo gostava de ir a igreja. Não que não gostasse dos ritos, com esses já estava habituada.
Não gostava do processo. Não gostava de vestir uma roupa de cinema, não gostava de andar no carro quente do pai, não gostava de abraçar pessoas com cheiro de lavanda, pessoas que ela nem conhecia. Não gostava do calor que fazia lá dentro. Não gostava de encarar as meninas que já encarava de segunda a sexta na escola. Não gostava que perguntassem como ela estava se sentindo. Não gostava do sermão do padre, não gostava dos olhos dos santos, e a óstia não tinha um gosto bom. Acreditava em Deus, e desacreditava na igreja. Acreditiva na Biblia, e desacreditava do folhetim dos domingos. Mas mesmo assim ia. Não cantava música alguma, achava melhor ficar calada ao proferir mentiras.
O padre dava a missa, os fiés ceavam, as pessoas lhe abraçavam. E a parte que ela mais gostava era de voltar pra o carro quente do pai, ouvir as reclamações da mãe e só ter que voltar ali no próximo domingo.

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