27 de julho de 2017

desterro

É complicado. Eu nunca mais havia escrito nada na minha vida. Agora já estou no terceiro texto pois preciso transformar tanto sentimento em alguma coisa. Isso é desde que eu te conheci. Eu sinto uma constante vontade de chorar, mas não é porque estou triste. São muitas descobertas que não cabem dentro de mim.

Eu nunca tinha parado para ler nada de Drummond, mas olha só onde estou. Isso é algo que eu gosto de repetir porque eu nunca pensei que pudesse estar aqui novamente. Minha mãe tem uma biblioteca enorme, com muitos livros, mas só tem um de Drummond. Por sorte achei um trecho do poema que eu queria te mostrar. Mas eu nem sei se você gosta de Drummond.

Eu descobri que ela tem muitos livros de Mia Couto. Como eu te disse. É muita descoberta. E eu te achei linda. E eu coloquei a mesma música para tocar muitas vezes. Porque ela é linda. E me lembrou você.

Eu passei a tarde toda pensando em você.
Mas a verdade é que muita coisa não faz o menor sentido. Eu fico me perguntando, por exemplo, de onde veio tudo isso que eu ando sentindo. Como se todo esse sentimento fosse uma coisa muito intrusa dentro de mim.

Eu não posso definir como “amor”. Amor é o que eu sinto pelo meu último namorado. Você é algo mais como.

Descoberta.

É como descobrir todos aqueles livros de Mia Couto na estante da minha mãe. Ou passar a tarde procurando uma poesia de Drummond.

Eu não sei mais de nada, mas quando estava na praia, pedi para o mar que esse sentimento - que mistura medo, alegria, dúvida e descoberta - seja algo muito bom.

É muito bom estar de volta. E talvez isso seja muito mais sobre mim do que sobre você.

20 de julho de 2017

anita,

toda vez que eu sento na minha cama e leio as palavras que você escreveu, me sinto abraçada e com vontade de chorar. são lindas. eu penso: caralho. e não consigo pensar em mais nada.

19 de julho de 2017

um cão dos diabos

eu te falei que tinha desistido de escrever sobre amor. até que você entrou pela porta e perguntou se eu já tinha comprado o ingresso praquele show que eu queria ir tanto. te disse que ainda não, que ia esperar até o fim do mês e você sorriu pra mim e balançou a cabeça.

eu te falei que tinha desistido, mas sai do meu quarto e dei de cara com você na sala, coberta como qualquer bicho que hiberna no inverno enquanto lia pela milésima vez o livro de leminski que eu tinha te dado há uns quatro ou cinco meses.

é, eu tinha desistido mesmo e então você olhou séria pra mim dizendo que aquelas palavras eram como abraços que protegem a alma e o corpo. você apontou para o papel e disse que aquele poema de leminski que falava sobre amor lhe lembrava um poema de drummond que falava sobre amor. eu te disse que todas essas coisas sobre o amor eram na verdade resumidas numa frase de bukowski.

eu tinha te falado muitas e muitas vezes que não escreveria mais nada sobre amor, mas olha só onde estou.