23 de setembro de 2010

Vai sair?

                  – ela perguntou retirando os olhos do livro que lia.
- Vou comprar cigarros. –ele respondeu colocando o casaco.
- Já? Você comprou uma carteira nova ontem.
- É, mas já está acabando.
- Você vai perder a sensação de achar o último cigarro na carteira?
- Ficaria muito puto se passasse por uma situação assim.
- E então, quando você fumar o último cigarro, vai se dar conta de que é o último. Daí, você entrará em pânico e viverá a sensação de ter de comprar um novo maço.

Ele limpou a garganta fingindo prestar atenção.

- E essa sensação, –ela continuou – é a mesma que se tem ao fumar o primeiro cigarro. Prazer intenso.
- Bom, preciso comprar cigarros. Até logo. –ele disse, instantes depois.

Ela voltou os olhos ao livro e ele fechou a porta da frente.

6 de setembro de 2010

118 e vanguarda

Meus lábios ardiam de saudade. Não só meus lábios, mas cada centímetro do meu corpo. Ardiam de saudade e de desejo.

Eram poucas as vezes que nós nos encontrávamos, e quando isso acontecia era rápido. Ou pelo menos, o tempo passava mais rápido que o normal. Ele não era um cara de muitas palavras e eu era uma garota de muitos segredos, o que tornava tudo mais excitante. Pelo menos, pra mim.

Quando nos encontrávamos, não falávamos sobre quase nada, a não ser sobre o que faríamos em breve. Depois de três cigarros, eu ignorava os seus comentários insinuantes sobre o meu corpo e sobre o que ele faria com este naquela noite.

Fim da noite. E finalmente, sem roupas ou segredos, caíamos sobre os lençóis do quarto 118. Nessas horas, tudo parecia claro e perto. A única coisa que nos distanciava eram os desabafos da segunda.

O teto não iria cair enquanto houvesse alegria sobre o chão em que eu pisava.