26 de janeiro de 2011

Quando eu era Lily Braun

Eu já fui borboleta, já fui Júlia, já fui Camila, já fui Clara e já fui Beatriz. Mas, de todas que já fui, a que mais gostei de ser foi Lily Braun.
Lily Braun não tinha segredos, não tinha mentiras e sorria de verdade. Lily Braun não sabia o quanto que era feliz. E quando era convidada pra sair, não precisava de mais nada.
Lily Braun sonhava... Adorava sonhar! Sonhava com coisas simples, mas tão belas.
Lily Braun tinha amigos, pai, mãe e uma boa reputação. O nome de Lily Braun nunca era desagradável de mencionar.
Lily Braun não podia voar e Lily Braun sabia disso.
Ai, que saudades eu tenho de ser Lily Braun.

Hoje, sou o que sobrou de todas que já fui um dia e sou também, grande parte de mim.

E sabe, crescer não é tão fácil como Lily Braun achou que fosse.

Sem título

Sete horas da manhã. Tomou um gole de café e acendeu o primeiro cigarro do dia. Precisava de um texto. Um conto, narrativa de fatos. Precisava viver fatos para escrever um conto. Um texto qualquer.

32 anos. Jornalista. Solteira.

Em pensar que aos 15, o futuro que esperava não era esse. Não todo esse. Jornalismo sempre fora uma aspiração. E o casamento também. Terminou que se dedicou demais. E não viveu nada do que queria. Lembrou-se de um texto que escreveu, sobre uma mulher que largava o marido e os filhos para se entregar a um amor aventureiro. Dera ela ter vivido isso. Dera ela ter a opção de escolher um dos dois. Dera ela ter a quem se entregar.

Uma longa tragada. Um suspiro. Olhou para alguns papéis na mesa. Contos já publicados nos folhetins do domingo. Todos sobre amor. Todos eram mentiras. Talvez, por tanto mentir sobre isso, tivesse parado de acreditar no amor. O que é irônico. Talvez nunca houvesse realmente amado. Talvez nunca houvesse sido realmente amada. E amores de adolescência não contavam.

Enquanto acendia o segundo cigarro, notou uma caixa velha em cima da estante. Com dificuldade a pegou. Nada demais, apenas páginas escritas por uma pequena menina que nada sabia sobre a vida. E ela, sabia? Talvez a menina, por sonhar, soubesse mais. Muito mais. Eram páginas cheias de sonhos, cheias de esperanças. Era ela, há um tempo. E da esperança, ainda restava um fio.

Respirou coragem e fumaça. Foi até o guarda-roupa, e tirou o seu vestido decotado, cheirando a naftalina. Lavou e engomou o vestido, que ficou esperando a noite chegar. No fim da tarde, tomou banho, penteou o cabelo, e se perfumou. Olhou-se no espelho. Desde quando aquelas rugas estavam ali? Nem havia notado. Passou mais pó do que o normal. E então, ousou colocar o vestido. Não ficou tão bom, quanto da ultima vez que ela o usou, mas ela não se incomodou. Saiu de casa, e foi em direção ao único bar que conhecia freqüentado por homens desacompanhados.

No meio de todas aquelas mocinhas sem virgindade, era página virada. Respirou mais uma vez. Coragem, cigarro e álcool. Sentou-se no balcão sem fazer pedido algum, acendeu um cigarro e esperou. Nada aconteceu. Nem na primeira, nem na segunda, nem na terceira noite. Terminou mentindo em mais um conto de domingo.

Depois de muitas noites, quase que desistindo e usando um vestido gasto, ela sentou-se no balcão mais uma vez, à espera de uma verdade. Acendeu um cigarro. E alguém perguntou o seu nome.

12 de janeiro de 2011

8 de janeiro de 2011

Natasha

Fazia frio. Um frio do caramba, pra falar a verdade. Era um daqueles dias que Recife só tem uma ou duas vezes ao ano. E ela estava um tanto que nervosa. Era jogo do Brasil. A estréia do Brasil na Copa deste ano. Ela nem gostava de futebol, mas aceitou assistir o jogo com ele mesmo assim. Ela gostava era dele. Então ela foi. Escolheu uma camiseta amarela e pôs um moleton verde por cima. Tradicionalmente. Ela não estava muito bonita. Ela nem era muito bonita. Mas mesmo assim…

Marcaram de se encontrar às duas. Embaixo do prédio dela. Ela o cumprimentou com uma abraço meio confuso. De lá, foram andando até um barzinho. Era um daqueles bares velhos, com cadeiras de madeiras, azuleijos coloridos e uma televisão enorme. E em conseqüencia da época, também estava enfeitado com bandeirinhas de São João verdes e amarelas.

“Que carnavalesco” —pensou.

Sentaram numa mesa com outros caras. Ele cumprimentou os outros de uma forma esquisita com as mãos e sentou numa cadeira, ao lado de outra cadeira vazia. Ela sentou-se ao seu lado. Ele sorriu pra ela, e ela sorriu pra ele. Ele apostava com os outros caras o resultado do jogo. Ela estava entediada.

Sua namorada? —perguntou um dos caras.

Não, não… —ele respondeu, sugestivo.

Bonita. —ao ouvir, ela ficou corada.

Finalmente a partida havia começado. Ela não entendia muito de futebol, mas sabia que o jogo tava uma merda… No fim do primeiro tempo, os garotos estavam putos. Xingaram Dunga e tudo que era relacionado a ele. Segundo tempo. Antes de começar, ele alertou:

Se o Brasil perder essa porra, eu viro uma Natasha todinha! —parou por um minuto e disse mais alguma coisa. —Não! Viro duas!

Ela não fazia a menor ideia do que era “Natasha”.

O jogo ia um pouco melhor… E então, a bola, inesperadamente entra na rede. E todo o bar vibra! Ela vibra junto. Ele vibra com ela. Ele a beija. Ela, acanhada, senta no seu lugar e sorri intimamente até o fim da partida. Sorri no segundo gol brasileiro, e até no único gol coreano. Ela simplesmente sorri. No fim da partida, todos os caras estavam bêbados, ou quase isso. Ele resolve leva-la para casa. No caminho, uma dúvida.

O que é Natasha? —ela pergunta.

Vodca. —ele responde... E a beija.

4 de janeiro de 2011

Vinis ao sol

Da última vez em nos encontramos, passeamos pelo centro da cidade, comemos sonho de padaria e ficamos olhando alguns discos de vinil cobertos pelo sol.
Foi uma tarde divertida, daquelas pra nunca mais.

Agora, essa tarde fica na lembrança. Naquele canto onde só as lembranças boas ficam.

Estou morrendo de saudades de você.