eu tinha vinte e oito anos. larguei o emprego que eu estava desde os vinte e dois e quis ganhar o mundo. não tinha grana, mas tinha um carro, meia garrafa de uísque e um violão.
antes de partir, um amigo ligou dizendo que a prima queria carona. ela ia ficar em alguma parte do caminho. lembro que pensei duas vezes antes de responder, mas resolvi levar a menina.
o nome dela era paloma. entrou no carro e sorriu pra mim. meu amigo falou alguma coisa sobre ela, mas não prestei muita atenção e partimos.
logo no começo da viagem, perguntei onde ela ia ficar. - onde você me quiser me levar, ela respondeu. eu sorri pra ela, sem levar aquilo à sério.
ficamos calados por muito tempo.
- pra onde você tá indo?, ela perguntou quebrando o silêncio.
- vou por aí. tô sem destino. quero ganhar o mundo, ser livre.
- o mundo é grande. vai demorar...
- e tu, pra onde tá indo?
- vou voltar pra minha casa. ver minha mãe. faz muito tempo que não vejo ela.
- o que tu veio fazer em recife?
- tentar alguma coisa...
preferi não perguntar o que, e ficamos por mais um bom tempo calados. a única estação de rádio que sintonizava àquela altura, tocava lô borges. não sei porque, mas aquilo tava me dando uma depressão do caralho. já dirigia há umas três horas e na estrada, era só mato seco e barro. já tava anoitecendo quando encontramos um bar no meio da estrada.
- vamo parar um pouco e depois a gente volta. tô precisando descansar um pouco.
ela concordou e me acompanhou na cerveja. não muito depois de ter sentado, ela perguntou ao dono do bar se tinha cigarro. ela apoiou um dos cotovelos na mesa enquanto fumava e me encarou. era morena, tinha os olhos e cabelos castanhos, quase mel. encarei paloma de volta.
- e então, o que tu veio fazer em recife?, perguntei.
ela sorriu.
- eu queria ser atriz. trabalhar no teatro, sabe? mas não deu muito certo não.
- passasse quanto tempo por lá?
- uns quatro anos.
- tentasse o teatro todo esse tempo?
- fiz muita coisa...
pausamos um pouco a conversa e ficamos apenas nos encarando. pareceu uma eternidade.
- o que tu fez por lá, menina?, perguntei.
- conheci muita gente. teve um cara que disse que me botava pra ser atriz se eu metesse com ele. eu fui, sabe? aí ele me botou pra ler umas coisas no palco, mas a gente se apresentou só duas vezes. teve briga, fui embora.
- e aí tu desistiu?
- não. mas precisava de grana.
não paramos por aí. ela me contou um monte de outras histórias. de tudo que fez, de tudo que não fez. de todos que amou, de todos que não amou. lá pelas tantas, já estava frio e ventando pra caramba. ela se aproximou de mim, me olhou e eu olhei de volta. nos beijamos. pagamos nossa conta no bar e fomos para o carro. nos beijamos varias vezes.
- porra., eu disse. - vamos foder.
fizemos amor no carro. e seguimos estrada. andamos por mais algum tempo na estrada escura, as janelas estavam abertas e um vento frio passava por nossos rostos, dando uma sensação de liberdade. já passava das duas da manhã quando paramos num motelzinho pra dormir. fodemos umas quatro ou cinco vezes. ela era incrível. e linda. virei de lado e dormi.
acordei com o sol batendo no rosto. ela tava tomando banho de porta aberta. olhei pra ela e sorri. acho que tava apaixonado por aquela garota.
quando já estávamos no carro, ela me encarou. em pouco tempo, ia deixá-la em casa. ela morava num lugar chamado Indiaroba
- sabe? gostei de você e não quero que você pense que sou uma pessoa ruim... já fiz muita coisa boa também., ela começou dizendo meio que sem certeza.
- eu nunca ia pensar nada disso de você.
- não quero mais essa vida, sabe? deixei tudo pra trás. quero voltar pra casa. dar orgulho à minha mãe. ter uma vida bonita.
sorri e disse pra ela que já estávamos perto.
quando ela desceu do carro, me agradeceu. desejei-lhe boa sorte com a vida e ela me desejou boa sorte para ganhar o mundo.
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