28 de abril de 2010

Câmeras e chás, cerveja e amor

Caminhava por uma dessas ruas antigas da cidade, em busca de boas imagens para o meu portfólio. Havia batido algumas fotos, teria continuado, se minha câmera não tivesse me abandonado, descarregada.

Resolvi, então, dar uma olhada numa feira de artesanatos que acontecia por ali. Pendurei minha câmera no pescoço e segui despreocupada. De repente, percebo que minha câmera caiu, e antes que eu pudesse fazer alguma coisa, ouço um crack. Olho para o chão e vejo minha câmera pisoteada. Olho para cima e vejo um cara de aparência medíocre me olhando sem graça. Subiram-me os nervos.

Comecei a reclamar e xingá-lo de tudo que eu podia, ele me pediu um pouco de calma e me chamou para conversar. Mas é claro! Conversaríamos. Discutiríamos os valores duma câmera nova.

Fomos para um desses bares boêmios e sentamo-nos numa dessas mesas na calçada, mesmo. Uma moça nos ofereceu um cardápio. Ele pediu um chá gelado. Chá gelado?! Estávamos num bar, caramba! A moça perguntou se eu queria alguma coisa. Eu disse que não, estava sem dinheiro. Ele, então, pediu mais um chá gelado, para mim.

Pegou nos óculos e pôs os cotovelos na mesa. Esperando que eu falasse algo. Então, reclamei dele, da sua falta de atenção e do chá gelado.

Tá, eu te compro uma câmera nova. Mas o que o chá gelado tem a ver com isso?

Estamos num bar, ora!

Sim, e daí...?

Discutimos um pouco mais, e nossa conversa fluía fácil.

E sobre o amor?

Não acredito nele.

Ele riu.

Você é a primeira mulher que me diz isso.

Dei de ombros.

Meu pai foi embora de casa quando eu era pequena. Que motivos eu teria para acreditar no amor?

Ele hesitou em silencio e nossa conversa foi tomando diferentes rumos. Ele tornava as coisas simples.

Você é um cara legal, mas ainda me deve uma câmera nova. -Eu disse e me levantei para ir embora.

Já vai? Fica. Toma mais uma.

Nós não tomamos nenhuma.

Não seja por isso.

Ele levantou o dedo e pediu à garçonete duas cervejas. Eu resolvi ficar. Sentei e continuamos a bater um papo legal. Tomamos mais umas e outras cervejas e no início da noite, já não estávamos mais completamente sóbrios.

Lembro dele ter pagado a conta, e me colocado delicadamente no seu carro. Não lembro de muita coisa... Sei que no dia seguinte, me encontrava ao seu lado.

Meu Deus! Eu só queria uma câmera nova e quem sabe, umas cervejas.

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