Sete horas da manhã. Tomou um gole de café e acendeu o primeiro cigarro do dia. Precisava de um texto. Um conto, narrativa de fatos. Precisava viver fatos para escrever um conto. Um texto qualquer.
32 anos. Jornalista. Solteira.
Em pensar que aos 15, o futuro que esperava não era esse. Não todo esse. Jornalismo sempre fora uma aspiração. E o casamento também. Terminou que se dedicou demais. E não viveu nada do que queria. Lembrou-se de um texto que escreveu, sobre uma mulher que largava o marido e os filhos para se entregar a um amor aventureiro. Dera ela ter vivido isso. Dera ela ter a opção de escolher um dos dois. Dera ela ter a quem se entregar.
Uma longa tragada. Um suspiro. Olhou para alguns papéis na mesa. Contos já publicados nos folhetins do domingo. Todos sobre amor. Todos eram mentiras. Talvez, por tanto mentir sobre isso, tivesse parado de acreditar no amor. O que é irônico. Talvez nunca houvesse realmente amado. Talvez nunca houvesse sido realmente amada. E amores de adolescência não contavam.
Enquanto acendia o segundo cigarro, notou uma caixa velha em cima da estante. Com dificuldade a pegou. Nada demais, apenas páginas escritas por uma pequena menina que nada sabia sobre a vida. E ela, sabia? Talvez a menina, por sonhar, soubesse mais. Muito mais. Eram páginas cheias de sonhos, cheias de esperanças. Era ela, há um tempo. E da esperança, ainda restava um fio.
Respirou coragem e fumaça. Foi até o guarda-roupa, e tirou o seu vestido decotado, cheirando a naftalina. Lavou e engomou o vestido, que ficou esperando a noite chegar. No fim da tarde, tomou banho, penteou o cabelo, e se perfumou. Olhou-se no espelho. Desde quando aquelas rugas estavam ali? Nem havia notado. Passou mais pó do que o normal. E então, ousou colocar o vestido. Não ficou tão bom, quanto da ultima vez que ela o usou, mas ela não se incomodou. Saiu de casa, e foi em direção ao único bar que conhecia freqüentado por homens desacompanhados.
No meio de todas aquelas mocinhas sem virgindade, era página virada. Respirou mais uma vez. Coragem, cigarro e álcool. Sentou-se no balcão sem fazer pedido algum, acendeu um cigarro e esperou. Nada aconteceu. Nem na primeira, nem na segunda, nem na terceira noite. Terminou mentindo em mais um conto de domingo.
Depois de muitas noites, quase que desistindo e usando um vestido gasto, ela sentou-se no balcão mais uma vez, à espera de uma verdade. Acendeu um cigarro. E alguém perguntou o seu nome.
Um comentário:
Muito bom.
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