19 de janeiro de 2012

Gabriela

Gabriela tomava o café em pequenos goles, parecia um passarinho. Ela era bonitinha. Conversávamos sobre poesia moderna e ela me disse que escrevia algumas coisas. Gabriela era inteligente, sabia uma porrada de coisas e o assunto fluía junto dela. Ela tinha conversa, das boas. Esse foi nosso primeiro encontro.

O segundo encontro foi diferente. Levei o violão, toquei algumas músicas, Gabriela sorriu e bateu palmas e cantou junto comigo. Paguei um sorvete pra nós dois e desatamos a conversar. Tocamos e cantamos algumas outras músicas.

Começamos a sair mais vezes e entre os encontros estavamos sempre dando um jeitinho de nos falar. Viramos amigos, fui almoçar na casa dela e ela conheceu minha mãe. Gabriela me tacava elogios, me enchia de abraço e tinha um cheiro muito gostoso de coisa doce. Gabriela era uma gracinha.

Gabriela tinha uma blusa de renda branca e uma sapatilha vermelha. Cara, como Gabriela era bonita! Como seu sorriso era lindo, e como o sol parecia sempre ser amigo dela, iluminando-a por onde quer que fosse. Ah, Gabriela...

A vida com Gabriela seria perfeita. Teríamos três filhos, moraríamos num apartamento de três quartos e com azulejos azuis. Tocaria violão pra ela na varanda enquanto tomávamos café. E por fim, envelheceriamos juntinhos, e assim ficaríamos até o fim.

Era dia 2 de maio, era uma sexta feira. Coloquei o meu melhor tênis e fomos na melhor cafeteria da cidade. Nunca tínhamos ido ali, era a primeira vez. Pedimos dois cafés gelados, eu não enrolei e fui logo ao ponto. Gabriela ficou quieta e pegou no cabelo, como sempre fazia quando estava nervosa. Eu ri do silêncio dela. Gabriela sempre gostou de fazer suspense.

Mas, ela respirou fundo e disse que não. Que não eram assim que as coisas deviam funcionar e que não dava. E ainda disse mais, que não era porque gostávamos das mesmas coisas que tínhamos sido feitos um para o outro. Gabriela me disse uma penca de coisas desagradáveis naquele dia e foi embora, deixando os dez reais pra pagar o café. Fiquei ali por mais um tempo, tentando digerir o que tinha acabado de acontecer.

Passei no mercado, comprei o uísque mais barato que encontrei e decidi que se era pra tomar um pé na bunda, que fosse bem tomado! Com direito a ressaca e choradeira. E assim foi.

Mas, Gabriela não se foi como o uísque daquela noite. Gabriela ficou pela casa, ficou viva no meu nariz, nos rostos das pessoas que na rua passavam, no canto dos pássaros, nos outdoors, nas músicas, nos sorrisos e onde quer que eu olhasse.

Gabriela não voltou mais.

2 comentários:

D disse...

gostei tanto

Anônimo disse...

gostei demais