"Criou Deus, pois, o homem à sua imagem" Gênesis 1:27.
Pode-se dizer que a humanidade tem início neste ponto. Ao menos, para grande maioria do mundo. Afinal, estamos diante do livro que rege muitas regras da sociedade há milhões de anos.
Porém, pode-se fugir da ideia comum de que fomos criados por um deus e partir para uma teoria onde se elimina esse deus e também, toda e qualquer ideia de criação intencional e definitiva, afirmando que a humanidade sempre esteve em constante mudança, evolução e transformação.
Para os que crêem nas ideologias biblícas, as implicações de tal teoria são arrasadoras, pois, se estiver correta, todas as ideias cristãs sobre o Universo e o lugar nele ocupado pelo homem serão destruídas. Desafiando assim, a visão religiosa da criação do mundo e até mesmo Deus, se é que isso é possível.
Mas, quando se coloca em pauta a humanidade e o tempo, surgem muitas perguntas e poucas respostas. E por mais que se procure entender, nunca se saberá ao certo desde quando estamos aqui e nem como surgimos. Até porque, a verdade é inalcançável.
4 de dezembro de 2010
27 de novembro de 2010
Coisa de menina/O baile num olhar
Eu viajava nos seus olhos. Era a primeira vez que eu reparava neles.
Eles eram azuis. Até então, azul nunca tinha sido minha cor favorita. Mas não um azul comum, era um azul suave e doce.
E os seus olhos dançavam empolgados, e eu senti vontade de entrar na dança.
Mas, já estva ficando tarde, e eu só reveria aqueles olhos dali a muito tempo.
Eles eram azuis. Até então, azul nunca tinha sido minha cor favorita. Mas não um azul comum, era um azul suave e doce.
E os seus olhos dançavam empolgados, e eu senti vontade de entrar na dança.
Mas, já estva ficando tarde, e eu só reveria aqueles olhos dali a muito tempo.
15 de outubro de 2010
Pedro e Camila
Dentre tantos beijos e apalpadas, não foi uma surpresa quando Camila sentiu a alça da camisa deslizar sobre seu ombro. Pedro tentava fazer isso com cuidado.
Eles pararam por um instante. Então, Pedro levou suas mãos até os seios de Camila, e com toda delicadeza possível os tocou.
As mãos dele estavam geladas. Camila sentiu aquele frio na barriga inusitado e já conhecido de primeira vez e sorriu constrangida para Pedro. Cada centímetro do seu corpo estava arrepiado.
Pedro sentia aquele frenesi, também típico... PEITOS! SEXO! CAMILA!
Sem muitas explicações, lágrimas começaram a rolar pela bochecha de Camila. Pedro não entendeu e ficou puto quando Camila cobriu-se com o lençol e sentou na beira da cama. Ela só não estava pronta.
Eles pararam por um instante. Então, Pedro levou suas mãos até os seios de Camila, e com toda delicadeza possível os tocou.
As mãos dele estavam geladas. Camila sentiu aquele frio na barriga inusitado e já conhecido de primeira vez e sorriu constrangida para Pedro. Cada centímetro do seu corpo estava arrepiado.
Pedro sentia aquele frenesi, também típico... PEITOS! SEXO! CAMILA!
Sem muitas explicações, lágrimas começaram a rolar pela bochecha de Camila. Pedro não entendeu e ficou puto quando Camila cobriu-se com o lençol e sentou na beira da cama. Ela só não estava pronta.
3 de outubro de 2010
Do grego: Acrofobia
No topo da sociedade está a classe rica e parece que a elite sofre de acrofobia. Acrofobia é uma palavra de origem grega e significa “medo de altura”. E quando se tem medo de altura, evita-se ao máximo olhar para baixo. Se pararmos para pensar, é exatamente isso que a elite faz.
Na escada social, quem está no topo, pouco se importa com quem está degraus abaixo. Fecham os olhos para quem passa frio e fome. E as campanhas solidárias só são pra manter uma boa imagem.
Na verdade, não se importam com a menina que perdeu a casa com o rompimento da barreira e nem com o menino que pede esmola no sinal. Enquanto distribuem sorrisos, apertos de mão e uma falsa compaixão, estão mesmo é pensando nas suas partidas de golfe, nas férias no Caribe, ou no jantar que irão oferecer nas suas coberturas, no topo de um desses prédios luxuosos.
Mas é claro, sem ir até a varanda.
Na escada social, quem está no topo, pouco se importa com quem está degraus abaixo. Fecham os olhos para quem passa frio e fome. E as campanhas solidárias só são pra manter uma boa imagem.
Na verdade, não se importam com a menina que perdeu a casa com o rompimento da barreira e nem com o menino que pede esmola no sinal. Enquanto distribuem sorrisos, apertos de mão e uma falsa compaixão, estão mesmo é pensando nas suas partidas de golfe, nas férias no Caribe, ou no jantar que irão oferecer nas suas coberturas, no topo de um desses prédios luxuosos.
Mas é claro, sem ir até a varanda.
23 de setembro de 2010
Vai sair?
– ela perguntou retirando os olhos do livro que lia.
- Vou comprar cigarros. –ele respondeu colocando o casaco.- Já? Você comprou uma carteira nova ontem.
- É, mas já está acabando.
- Você vai perder a sensação de achar o último cigarro na carteira?
- Ficaria muito puto se passasse por uma situação assim.
- E então, quando você fumar o último cigarro, vai se dar conta de que é o último. Daí, você entrará em pânico e viverá a sensação de ter de comprar um novo maço.
Ele limpou a garganta fingindo prestar atenção.
- E essa sensação, –ela continuou – é a mesma que se tem ao fumar o primeiro cigarro. Prazer intenso.
- Bom, preciso comprar cigarros. Até logo. –ele disse, instantes depois.
Ela voltou os olhos ao livro e ele fechou a porta da frente.
6 de setembro de 2010
118 e vanguarda
Meus lábios ardiam de saudade. Não só meus lábios, mas cada centímetro do meu corpo. Ardiam de saudade e de desejo.
Eram poucas as vezes que nós nos encontrávamos, e quando isso acontecia era rápido. Ou pelo menos, o tempo passava mais rápido que o normal. Ele não era um cara de muitas palavras e eu era uma garota de muitos segredos, o que tornava tudo mais excitante. Pelo menos, pra mim.
Quando nos encontrávamos, não falávamos sobre quase nada, a não ser sobre o que faríamos em breve. Depois de três cigarros, eu ignorava os seus comentários insinuantes sobre o meu corpo e sobre o que ele faria com este naquela noite.
Fim da noite. E finalmente, sem roupas ou segredos, caíamos sobre os lençóis do quarto 118. Nessas horas, tudo parecia claro e perto. A única coisa que nos distanciava eram os desabafos da segunda.
O teto não iria cair enquanto houvesse alegria sobre o chão em que eu pisava.
Eram poucas as vezes que nós nos encontrávamos, e quando isso acontecia era rápido. Ou pelo menos, o tempo passava mais rápido que o normal. Ele não era um cara de muitas palavras e eu era uma garota de muitos segredos, o que tornava tudo mais excitante. Pelo menos, pra mim.
Quando nos encontrávamos, não falávamos sobre quase nada, a não ser sobre o que faríamos em breve. Depois de três cigarros, eu ignorava os seus comentários insinuantes sobre o meu corpo e sobre o que ele faria com este naquela noite.
Fim da noite. E finalmente, sem roupas ou segredos, caíamos sobre os lençóis do quarto 118. Nessas horas, tudo parecia claro e perto. A única coisa que nos distanciava eram os desabafos da segunda.
O teto não iria cair enquanto houvesse alegria sobre o chão em que eu pisava.
29 de agosto de 2010
Meio bailarina
Me leva na dança junto com você.
Com todo cuidado na ponta do pé.
Entre piruetas e passés,
me carregue nos seus rodopios.
Com todo cuidado na ponta do pé.
Entre piruetas e passés,
me carregue nos seus rodopios.
28 de agosto de 2010
de Vinicius
E por falar em saudade onde anda você
Onde andam seus olhos que a gente não vê
[...]
E por falar em beleza onde anda a canção
Que se ouvia na noite dos bares de então
[...]
Hoje eu saio na noite vazia
Numa boemia sem razão de ser
Na rotina dos bares, que apesar dos pesares,
Me trazem você
E por falar em paixão, em razão de viver,
Você bem que podia me aparecer
Nesses mesmos lugares, na noite, nos bares
A onde anda você?
Onde andam seus olhos que a gente não vê
[...]
E por falar em beleza onde anda a canção
Que se ouvia na noite dos bares de então
[...]
Hoje eu saio na noite vazia
Numa boemia sem razão de ser
Na rotina dos bares, que apesar dos pesares,
Me trazem você
E por falar em paixão, em razão de viver,
Você bem que podia me aparecer
Nesses mesmos lugares, na noite, nos bares
A onde anda você?
15 de agosto de 2010
Elefante
eu não sei
eu não sei se sou quem sou, se fico ou vou
eu já não sei mais te dizer se sou mais eu ou você
Santa Maria da Feira
eu não sei se sou quem sou, se fico ou vou
eu já não sei mais te dizer se sou mais eu ou você
Santa Maria da Feira
13 de agosto de 2010
24 de julho de 2010
12 de julho de 2010
O Grande Hotel
Era sexta feira. Apenas o final de semana esperava por nós. O final de semana e o Grande Hotel.
Crescemos perto do Grande Hotel, sempre curiosos para saber suas lendas e histórias. A maioria de nós ainda não era nascido quando o Grande Hotel faliu. Era um hotel muito antigo e tradicional da nossa cidade. Quem havia conhecido o hotel nos bons tempos, não economizava elogios para dizer o quanto que as instalações e os serviços eram bons.
Ninguém realmente sabia o motivo daquele hotel ter falido. As coisas sempre pareciam tão fartas por ali. Os proprietários haviam sumido, e os poucos funcionários que restavam não comentavam nada sobre essa súbita caída do Grande Hotel. Uns diziam, que o hotel nunca ia bem, outros diziam que o gerente havia tomado todo lucro. Nada muito concreto, na verdade. As dúvidas e o mistério do hotel nos cercavam. E estávamos com vontade de descobrir o que realmente havia acontecido, porque aquelas histórias não nos satisfaziam. Algo ali era esquisito.
Era um grupo médio, cerca de 12 meninas e meninos corajosos. No finalzinho da tarde, marcamos de nos encontrar na rua antes do hotel. Levamos nossas bicicletas e enchemos nossas mochilas de pequenas armas de defesa e biscoitos. Estávamos prontos.
Pedalamos até o hotel. O Grande Hotel ficava num lugar alto, e a estrada de acesso era de barro. Apenas metade da escada estava asfaltada. Pedalar ladeiras altas é difícil, mas nós não desistimos. Quando alcançamos o hotel, já estava quase escuro. Nenhum de nós havia subido ali antes. Confesso, que estávamos com um pouco de medo… Pelo menos eu.
Apesar de velho e acabado, não podíamos negar que o hotel era belíssimo. Uma casa grande e branca com portas e janelas de madeira escura. Quando ainda funcionava, devia ser a casa mais bela de toda cidade.
Agora, as paredes do hotel estavam descascadas, as portas e janelas estavam arrombadas e quebradas. Era uma casa típica de filme de terror, ou algo assim. O letreiro apagado, em cima da porta principal tinha as letras “GRNDE HOEL”.
Olhamos um para o outro e tomamos muita coragem. Alguns de nós ainda hesitou em entrar, mas o Marquinhos, o que tinha dado a idéia de invadirmos o hotel, disse que nós não podíamos amarelar naquela hora. E alguma força maior que nós, fez com que entrássemos. A Luiza pegou na minha mão e disse que estava com medo. Eu a mandei ficar calma. Mas nem mesmo eu estava.
Tudo estava muito empoeirado e sujo. O lugar tinha um cheiro insuportável de mofo e coisa velha. Na primeira sala, havia um balcão e um telefone velho em cima dele. Havia também uns sofás cobertos por lençóis quase cinzas. Em cima do balcão, uma placa nos informava que ali devia ser a recepção. Não havia nada de suspeito ou interessante por ali, então decidimos seguir a placa que nos indicava a piscina.
A piscina ficava num jardim. Devia ser um jardim bonito antigamente. Agora, estava tomado por plantas que cresciam descontroladamente e sem ter pra onde ir. A piscina estava com alguns azulejos quebrados e com muito lodo no fundo. Vimos também alguns sapos… Nada realmente empolgante, e aquilo estava ficando sem graça.
Voltamos e decidimos ir até a cozinha do hotel. Tinha um cheiro horrível de coisa podre. Incrível como depois de tanto tempo, ninguém tenha ido ali para checar as coisas. Saímos logo de lá, estava insuportável. Resolvemos seguir o corredor dos quartos.
Era um corredor escuro, iluminado apenas por algumas pequenas lanternas que havíamos levado. As portas de vários quartos estavam semi-abertas. E algum cheiro terrível saia de lá. Era um cheiro estranho e desconhecido.
Não havíamos entrado em nenhum quarto ainda. Então ouvimos o primeiro gemido. Foi um alvoroço, mas Marquinhos logo conseguiu manter a calma entre as garotas. Era um gemido curioso, talvez a procura de alguma coisa. Depois de calmos –ou quase isso –ouvimos uma respiração, parecia ofegante. Ouvimos o segundo gemido, mas esse vinha de outro lugar. Essa foi a deixa pra que as garotas fossem embora. Resolveram que iam ficar lá fora, nos esperando e caso alguma coisa acontecesse, elas estavam prontas pra buscar ajuda. Foi realmente melhor assim.
Quando estávamos novamente concentrados em nossas buscas pelo mistério, ouvimos o terceiro gemido. Esse parecia enfurecido. As respirações, se multiplicaram. Mas nós não estávamos vendo nada. Resolvemos entrar num quarto.
O quarto fedia ainda mais que o corredor. O cheiro estranho ficou intenso. Foi aí que notamos a criatura que nos observava em cima da cama. Era uma criatura horrível. Tinha grandes olhos vermelhos, um pequeno corpo curvado e raquítico e os dentes muito afiados. E tinha aquela respiração carregada e ofegante. Balbuciava alguma coisa estranha numa voz rouca e então gemeu alto.
Outras criaturas como ela invadiram o quarto e vieram em nossa direção, alguns meninos chamaram por socorro e pudemos ouvir gritos desesperados das garotas lá fora. Estávamos desesperados também. As criaturinhas estavam cada vez mais perto.
Pegamos rapidamente nossas facas e na adrenalina nossas lanternas caíram no chão. E enquanto procurava o facão na mochila, Marquinhos não percebeu que uma das criaturas se aproximava, até que ela o envolveu com seus braços e dedos finos. Ele agonizava e nós não podíamos fazer nada. As outras criaturas apenas observavam tudo aquilo. Não podíamos sair do quarto, pois saberíamos que qualquer movimento iria causar ainda mais problemas. Observamos amedrontados, a criatura abrir a cabeça de marquinhos ao meio de forma brutal, e devorar o seu cérebro. Aquilo tudo era terrível, mas naquela hora, não tínhamos noção do quanto.
Quando finalmente acabou, a criatura que comia o Marquinhos urrou, então, uma outra se aproximou dela e juntas saíram do quarto com o resto do corpo de Marquinhos. Então, as outras criaturas avançaram para cima de nós, gemendo e urrando como nunca. Gritamos apavorados e enfiamos nossas facas sem nem olhar para onde. Tentávamos nos desviar daqueles dentes afiados e daquelas garras finas. Quando acertávamos alguma das criaturas, elas gritavam e uma gosma verde musgo saia de dentro delas, e então, elas paravam de respirar.
Enquanto tentávamos acabar com todas aquelas criaturas, ouvimos alguns tiros vindos detrás de nós e vimos as criaturas restantes gritarem e caírem no chão. Felizmente, nenhum outro garoto havia sido capturado. Então, olhamos para trás e um velho de chapéu nos olhava com uma cara muito irritada.
- O que estão fazendo aqui pirralhos? –ele perguntou.
Gaguejamos algumas coisas e então calamos quando ele nos perguntou se sabíamos o que era aquilo.
- Estes carinhas, são alienígenas macabros que estão habitando aqui há muito tempo. Eles desceram aqui, há anos, quando o hotel ainda funcionava, e acabaram com os hóspedes e vários funcionários, da mesma forma que fizeram com o seu amiguinho. Aliás, acho que ele não vai escapar dessa… Obviamente. Enfim, que estão fazendo aqui?
- Queríamos saber dos mistérios que esse hotel escondia. –falou um dos meninos.
- Agora sabem! –o velho falou. –Vão embora rápido, antes que essas coisas acordem e devorem vocês. Elas nunca morrem.
- Como o senhor sabe disso? –perguntou um dos garotos.
- Eu já fiz isso várias vezes… Moro naquele casebre ali atrás, sempre vejo quando tem algum movimento suspeito aqui, como o de vocês. Mas isso não importa, agora, sumam!
Enquanto corríamos em direção à recepção do hotel, o velho nos alertou.
- Não contem a ninguém! Eles descobrirão e irão atrás de vocês! Confiem em mim.
Concordamos e saímos do hotel atônitos, as meninas nos esperavam preocupadas… Então, deram falta do Marquinhos.
Agora, teríamos de inventar uma boa história.
Crescemos perto do Grande Hotel, sempre curiosos para saber suas lendas e histórias. A maioria de nós ainda não era nascido quando o Grande Hotel faliu. Era um hotel muito antigo e tradicional da nossa cidade. Quem havia conhecido o hotel nos bons tempos, não economizava elogios para dizer o quanto que as instalações e os serviços eram bons.
Ninguém realmente sabia o motivo daquele hotel ter falido. As coisas sempre pareciam tão fartas por ali. Os proprietários haviam sumido, e os poucos funcionários que restavam não comentavam nada sobre essa súbita caída do Grande Hotel. Uns diziam, que o hotel nunca ia bem, outros diziam que o gerente havia tomado todo lucro. Nada muito concreto, na verdade. As dúvidas e o mistério do hotel nos cercavam. E estávamos com vontade de descobrir o que realmente havia acontecido, porque aquelas histórias não nos satisfaziam. Algo ali era esquisito.
Era um grupo médio, cerca de 12 meninas e meninos corajosos. No finalzinho da tarde, marcamos de nos encontrar na rua antes do hotel. Levamos nossas bicicletas e enchemos nossas mochilas de pequenas armas de defesa e biscoitos. Estávamos prontos.
Pedalamos até o hotel. O Grande Hotel ficava num lugar alto, e a estrada de acesso era de barro. Apenas metade da escada estava asfaltada. Pedalar ladeiras altas é difícil, mas nós não desistimos. Quando alcançamos o hotel, já estava quase escuro. Nenhum de nós havia subido ali antes. Confesso, que estávamos com um pouco de medo… Pelo menos eu.
Apesar de velho e acabado, não podíamos negar que o hotel era belíssimo. Uma casa grande e branca com portas e janelas de madeira escura. Quando ainda funcionava, devia ser a casa mais bela de toda cidade.
Agora, as paredes do hotel estavam descascadas, as portas e janelas estavam arrombadas e quebradas. Era uma casa típica de filme de terror, ou algo assim. O letreiro apagado, em cima da porta principal tinha as letras “GRNDE HOEL”.
Olhamos um para o outro e tomamos muita coragem. Alguns de nós ainda hesitou em entrar, mas o Marquinhos, o que tinha dado a idéia de invadirmos o hotel, disse que nós não podíamos amarelar naquela hora. E alguma força maior que nós, fez com que entrássemos. A Luiza pegou na minha mão e disse que estava com medo. Eu a mandei ficar calma. Mas nem mesmo eu estava.
Tudo estava muito empoeirado e sujo. O lugar tinha um cheiro insuportável de mofo e coisa velha. Na primeira sala, havia um balcão e um telefone velho em cima dele. Havia também uns sofás cobertos por lençóis quase cinzas. Em cima do balcão, uma placa nos informava que ali devia ser a recepção. Não havia nada de suspeito ou interessante por ali, então decidimos seguir a placa que nos indicava a piscina.
A piscina ficava num jardim. Devia ser um jardim bonito antigamente. Agora, estava tomado por plantas que cresciam descontroladamente e sem ter pra onde ir. A piscina estava com alguns azulejos quebrados e com muito lodo no fundo. Vimos também alguns sapos… Nada realmente empolgante, e aquilo estava ficando sem graça.
Voltamos e decidimos ir até a cozinha do hotel. Tinha um cheiro horrível de coisa podre. Incrível como depois de tanto tempo, ninguém tenha ido ali para checar as coisas. Saímos logo de lá, estava insuportável. Resolvemos seguir o corredor dos quartos.
Era um corredor escuro, iluminado apenas por algumas pequenas lanternas que havíamos levado. As portas de vários quartos estavam semi-abertas. E algum cheiro terrível saia de lá. Era um cheiro estranho e desconhecido.
Não havíamos entrado em nenhum quarto ainda. Então ouvimos o primeiro gemido. Foi um alvoroço, mas Marquinhos logo conseguiu manter a calma entre as garotas. Era um gemido curioso, talvez a procura de alguma coisa. Depois de calmos –ou quase isso –ouvimos uma respiração, parecia ofegante. Ouvimos o segundo gemido, mas esse vinha de outro lugar. Essa foi a deixa pra que as garotas fossem embora. Resolveram que iam ficar lá fora, nos esperando e caso alguma coisa acontecesse, elas estavam prontas pra buscar ajuda. Foi realmente melhor assim.
Quando estávamos novamente concentrados em nossas buscas pelo mistério, ouvimos o terceiro gemido. Esse parecia enfurecido. As respirações, se multiplicaram. Mas nós não estávamos vendo nada. Resolvemos entrar num quarto.
O quarto fedia ainda mais que o corredor. O cheiro estranho ficou intenso. Foi aí que notamos a criatura que nos observava em cima da cama. Era uma criatura horrível. Tinha grandes olhos vermelhos, um pequeno corpo curvado e raquítico e os dentes muito afiados. E tinha aquela respiração carregada e ofegante. Balbuciava alguma coisa estranha numa voz rouca e então gemeu alto.
Outras criaturas como ela invadiram o quarto e vieram em nossa direção, alguns meninos chamaram por socorro e pudemos ouvir gritos desesperados das garotas lá fora. Estávamos desesperados também. As criaturinhas estavam cada vez mais perto.
Pegamos rapidamente nossas facas e na adrenalina nossas lanternas caíram no chão. E enquanto procurava o facão na mochila, Marquinhos não percebeu que uma das criaturas se aproximava, até que ela o envolveu com seus braços e dedos finos. Ele agonizava e nós não podíamos fazer nada. As outras criaturas apenas observavam tudo aquilo. Não podíamos sair do quarto, pois saberíamos que qualquer movimento iria causar ainda mais problemas. Observamos amedrontados, a criatura abrir a cabeça de marquinhos ao meio de forma brutal, e devorar o seu cérebro. Aquilo tudo era terrível, mas naquela hora, não tínhamos noção do quanto.
Quando finalmente acabou, a criatura que comia o Marquinhos urrou, então, uma outra se aproximou dela e juntas saíram do quarto com o resto do corpo de Marquinhos. Então, as outras criaturas avançaram para cima de nós, gemendo e urrando como nunca. Gritamos apavorados e enfiamos nossas facas sem nem olhar para onde. Tentávamos nos desviar daqueles dentes afiados e daquelas garras finas. Quando acertávamos alguma das criaturas, elas gritavam e uma gosma verde musgo saia de dentro delas, e então, elas paravam de respirar.
Enquanto tentávamos acabar com todas aquelas criaturas, ouvimos alguns tiros vindos detrás de nós e vimos as criaturas restantes gritarem e caírem no chão. Felizmente, nenhum outro garoto havia sido capturado. Então, olhamos para trás e um velho de chapéu nos olhava com uma cara muito irritada.
- O que estão fazendo aqui pirralhos? –ele perguntou.
Gaguejamos algumas coisas e então calamos quando ele nos perguntou se sabíamos o que era aquilo.
- Estes carinhas, são alienígenas macabros que estão habitando aqui há muito tempo. Eles desceram aqui, há anos, quando o hotel ainda funcionava, e acabaram com os hóspedes e vários funcionários, da mesma forma que fizeram com o seu amiguinho. Aliás, acho que ele não vai escapar dessa… Obviamente. Enfim, que estão fazendo aqui?
- Queríamos saber dos mistérios que esse hotel escondia. –falou um dos meninos.
- Agora sabem! –o velho falou. –Vão embora rápido, antes que essas coisas acordem e devorem vocês. Elas nunca morrem.
- Como o senhor sabe disso? –perguntou um dos garotos.
- Eu já fiz isso várias vezes… Moro naquele casebre ali atrás, sempre vejo quando tem algum movimento suspeito aqui, como o de vocês. Mas isso não importa, agora, sumam!
Enquanto corríamos em direção à recepção do hotel, o velho nos alertou.
- Não contem a ninguém! Eles descobrirão e irão atrás de vocês! Confiem em mim.
Concordamos e saímos do hotel atônitos, as meninas nos esperavam preocupadas… Então, deram falta do Marquinhos.
Agora, teríamos de inventar uma boa história.
23 de junho de 2010
Admirável mundo novo
Admirável mundo novo. Não existem outras palavras para começar este texto, a não serem estas. As mesmas que Huxley usou para intitular o seu livro. Que eu, na verdade, nunca li, mas o título me encanta. Bastante.
Começo este texto com essas palavras, porque tudo é novo a partir de agora. É como uma borboleta que sai do casulo. Ansiando freneticamente por novas experiências. O primeiro vôo é o mais importante.
Talvez eu esteja mentindo, talvez eu ainda não tenha dado o primeiro vôo. Ou talvez eu ainda esteja voando muito baixo, ganhando impulso para subir. Mas o fato de eu desejar, ou o pouco que eu tenho voado, me faz me sentir a mais habilidosa que existe, quando se trata de voar. E como isso é bom!
Voar é relativamente fácil. É só bater asas, e aí estou eu. Livre. E ninguém está notando isso... Ninguém está notando o quanto eu estou livre. Me perdendo, seguindo o curso de minhas próprias asas.
Mas isso não é ruim. Nunca disse que isso era ruim, é preciso se perder pra se encontrar. Encaro tudo isso como lucro, e não como perda. Tudo na minha vida é lucro, a partir de agora. Independente do que seja, eu estou lucrando.
O novo é amedrontador, às vezes. Mas é admirável, sempre. E o medo é gás, para seguir em frente, para ver o que há de novo. É contraditório. Mas viver é contraditório. Cigarros são contraditórios, pessoas são contraditórias, Deus é contraditório.
Talvez, um dia eu seja obrigada a enfrentar as conseqüências. Eu certamente serei. Mas apesar de tudo, poderei encher o meu peito e dizer que eu vivi coisas novas. Cedo demais, talvez. Mas lá estava eu. Sem arrependimento algum.
Até porque, tudo é feito meticulosamente.
12 de junho de 2010
Pormenores ou Carolina
Tudo era terrivelmente belo quando se tratava de Carolina. Seus olhos escuros e brilhantes e seus cabelos longos e agitados pelo vento... Ah, Carolina! Se Deus existe, Ele trabalhou tremendamente bem em Carolina.
Por onde quer que passasse, Carolina atraia o olhar de guris sedentos pelo seu belíssimo corpo. Inclusive o meu. Especialmente o meu.
E Carolina, por ser ingênua demais, ou por puro desinteresse não correspondia aos nossos olhares. O que nos fazia desejá-la mais e mais.
Nós sabiamos que Carolina nunca olharia para nenhum de nós. Carolina gostava dos caras mais velhos, de homens. E a diferença entre meninos e homens é brusca.
Magro e não muito alto, eu não costumava atrair o olhar de meninas. De nenhuma menina, para ser sincero. Principalmente o de Carolina. Eu tinha noção de que nunca a possuíria. Mas algo era maior que eu.
Numa dessas manhãs sem sol nem chuva, algo me fez ir até Carolina. Com toda coragem de um menino de 13 anos, resolvi que me declararia para ela.
Carolina me recebeu com um sorriso.
Carolina, eu amo você. -disse com dificuldade.
Ela me olhou incrédula, e nada falou por um bom tempo.
Eu não. -resolveu dizer, fria.
Não falamos mais nada. Eu não tinha o que falar. Estava desesperado. O que eu poderia dizer naquela hora? Lembrei de um filme que eu vi. O último filme que eu havia assistido.
Como é horrível e belo o dia que eu ainda não vi.
Essas foram as últimas palavras que eu disse a Carolina.
Hoje, Carolina é apenas uma lembrança. Uma lembrança que eu guardo carinhosamente. Uma lembrança horrível e bela.
Por onde quer que passasse, Carolina atraia o olhar de guris sedentos pelo seu belíssimo corpo. Inclusive o meu. Especialmente o meu.
E Carolina, por ser ingênua demais, ou por puro desinteresse não correspondia aos nossos olhares. O que nos fazia desejá-la mais e mais.
Nós sabiamos que Carolina nunca olharia para nenhum de nós. Carolina gostava dos caras mais velhos, de homens. E a diferença entre meninos e homens é brusca.
Magro e não muito alto, eu não costumava atrair o olhar de meninas. De nenhuma menina, para ser sincero. Principalmente o de Carolina. Eu tinha noção de que nunca a possuíria. Mas algo era maior que eu.
Numa dessas manhãs sem sol nem chuva, algo me fez ir até Carolina. Com toda coragem de um menino de 13 anos, resolvi que me declararia para ela.
Carolina me recebeu com um sorriso.
Carolina, eu amo você. -disse com dificuldade.
Ela me olhou incrédula, e nada falou por um bom tempo.
Eu não. -resolveu dizer, fria.
Não falamos mais nada. Eu não tinha o que falar. Estava desesperado. O que eu poderia dizer naquela hora? Lembrei de um filme que eu vi. O último filme que eu havia assistido.
Como é horrível e belo o dia que eu ainda não vi.
Essas foram as últimas palavras que eu disse a Carolina.
Hoje, Carolina é apenas uma lembrança. Uma lembrança que eu guardo carinhosamente. Uma lembrança horrível e bela.
7 de junho de 2010
As pessoas não estão preparadas para ter filhos. Elas nunca vão estar...
E aqui estou eu. Sem ter ninguém para conversar e um daqueles desenhos japoneses passando na TV. Não estou prestando atenção. Não gosto muito de desenhos japoneses, não mais.
Quando eu era pequena, teve uma época em que o meu filme preferido era A Viagem de Chihiro, um desenho animado japonês. Lembro-me bem, que por muito tempo, esse era o único filme que eu alugava. Era tão bom... Colocar aquele VHS preto no vídeo cassete, que sempre rejeitava. Então, enfiava novamente a fita lá dentro. E de novo. E de novo. Até que o vídeo cassete não cuspisse mais a fita, e começassem a surgir sons e imagens na minha TV. Sentava-me no sofá, e assistia o filme até o fim... Me encantava com aquelas criaturas mágicas e com a Chihiro voando naquele dragão. Era mesmo um dragão?! Lembro que a menina tinha que salvar seus pais, para que eles não virassem porcos. Lembro de ter medo do filme -sempre gostei de um terrorzinho -e esse medo, era que me fazia ter vontade de assistir o filme até o fim.
A cada vez que eu assistia, era uma experiência diferente. Sempre uma surpresa. Preciso ver o filme outra vez; viajar na minha infância, resgatar coisas lá no fundo da memória.
Apesar de eu não gostar muito de desenhos japoneses.
Quando eu era pequena, teve uma época em que o meu filme preferido era A Viagem de Chihiro, um desenho animado japonês. Lembro-me bem, que por muito tempo, esse era o único filme que eu alugava. Era tão bom... Colocar aquele VHS preto no vídeo cassete, que sempre rejeitava. Então, enfiava novamente a fita lá dentro. E de novo. E de novo. Até que o vídeo cassete não cuspisse mais a fita, e começassem a surgir sons e imagens na minha TV. Sentava-me no sofá, e assistia o filme até o fim... Me encantava com aquelas criaturas mágicas e com a Chihiro voando naquele dragão. Era mesmo um dragão?! Lembro que a menina tinha que salvar seus pais, para que eles não virassem porcos. Lembro de ter medo do filme -sempre gostei de um terrorzinho -e esse medo, era que me fazia ter vontade de assistir o filme até o fim.
A cada vez que eu assistia, era uma experiência diferente. Sempre uma surpresa. Preciso ver o filme outra vez; viajar na minha infância, resgatar coisas lá no fundo da memória.
Apesar de eu não gostar muito de desenhos japoneses.
23 de maio de 2010
dilema
Minha vida, minhas concepções
Sempre duvidei que você aceitaria
Sua intolerância me faz cada vez mais
Um refém de mim mesmo
Vivendo do Ócio
Sempre duvidei que você aceitaria
Sua intolerância me faz cada vez mais
Um refém de mim mesmo
Vivendo do Ócio
21 de maio de 2010
Bob Dylan, café, cigarros e atravessar a rua correndo
Acordei cedo. O Rio Capibaribe sorria para mim. Eu não sorri de volta. O vento soprou forte e as cadeiras de plástico estremeceram na varanda do sexto andar.
Coloquei água no fogão e esperei até que ela fervesse. Pus duas colherinhas de café solúvel na xícara cheia de água quente.
Merda. O café estava muito quente. Minha língua foi tomada por bolhinhas –que vieram a me incomodar mais tarde. Desisti do café. Procurei minha carteira de cigarros... Vazia. Que merda! Porque eu não comprei cigarros na noite anterior?
Vesti uma camiseta qualquer e fui pegar o elevador. Demorou a chegar. Lento e velho, nossa descida era sacolejante e perturbadora. Tinha a sensação que eu poderia morrer a qualquer instante ali dentro.
A rua estava vazia, exceto por alguns lojistas que abriam suas lojas. Havia um posto 24h na esquina da outra rua, provavelmente encontraria meus cigarros por lá.
Caminhava distraído pelas calçadas imundas da cidade, e assim, distraído, fui atravessar a rua. De repente, vejo um carro vindo em minha direção correndo descontroladamente. Reuni todas as minhas forças matinais e atravessei a rua correndo o mais rápido que poderia. O motorista –que quase me tirava a vida –era um garoto, provavelmente bêbado, que colidiu num poste em seguida.
Os poucos que transitavam pela rua, correram imediatamente em direção ao carro destruído. Eu continuei andando, a fim de comprar os malditos cigarros e voltar para casa. Finalmente, comprei uma carteira de cigarros, teria acendido um lá mesmo, se eu não tivesse esquecido o isqueiro.
Na volta para casa, passei em frente ao acidente. O garoto, estava estirado no chão, ensangüentado. Uma mulher gritava desesperadamente para que chamassem uma ambulância. Um outro homem, dizia que o garoto estava (quase) morto. E estava.
Resolvi seguir caminho para casa. Passei pelas mesmas calçadas imundas outra vez. Tomei o mesmo elevador sacolejante e perturbador, e por fim, cheguei em casa.
Procurei o isqueiro e acendi o meu cigarro. Esquentei água novamente. Preparei o meu café. Não estava quente demais dessa vez. Liguei o som num volume razoável, para mim e para os meus vizinhos. Tocava Bob Dylan.
Olhei novamente para o rio. Ele ainda sorria para mim. Sorri de volta. E mais adiante, pude observar um garoto (quase) morto, enquanto eu curtia Bob Dylan, café e cigarros.
16 de maio de 2010
15 de maio de 2010
Sexta -feira, 14
São cinco e meia da tarde. Exatamente isso. Estou sozinha em casa, o meu pai foi levar meu irmão à abertura dos jogos internos do meu colégio. Eu não vou. Não estou com a mínima vontade de ir. Todas as minhas amigas vão, e provavelmente passarão o resto da semana dizendo o quanto que foi bom. Mas e daí?
Cinco e meia da tarde, e faz um calor do inferno. Na verdade, fez um calor do inferno durante toda a tarde. Mas minha tarde não foi ruim. Não completamente. Meu computador não estava pegando, fiquei maluca. Tive idéias para maravilhosas histórias... Eu poderia ter pegado papel e lápis. É, eu poderia. Mas não o fiz. Ao invés disso, fui assistir a filmes e tomar sorvete. Acho que as tardes de sexta-feira são completamente propicias a esse tipo de coisa. Eu não tenho uma vida social agitada. Costumava ter. Nunca estava em casa nas sextas...
Agora, são cinco e trinta e cinco. Exatamente isso. Se passaram cinco minutos desde que eu comecei a jorrar palavras nesse teclado. Gosto de fazer isso. Gosto muito. Alguns dizem que eu faço isso bem. É mentira. Eu não acho. Nem eles.
Não é possível você fazer algo bom, sem ter a menor noção do que faz. É o que eu faço. Escrevo sem rumo. Perco a linha. Sempre.
Agora, são cinco e quarenta. Exatamente isso. Já se passaram dez minutos que eu estou sentada em frente ao meu computador numa cadeira desconfortável. Já se passaram dez minutos que estou jorrando palavras no teclado. Palavras ao léu. Completamente sem sentido... A verdade, é que eu não deveria estar aqui. Já são quase seis da tarde, e está na hora de colocar a pizza no forno. Volto já.
2 de maio de 2010
Freiras Lésbicas Assassinas
Só eu e ele. Eu, ele e aquela 38. Ele dormia. Seria fácil. Seria como nos filmes. Eu atirava e ele morria. Não importavam as conseqüências. Ele estaria morto. Em breve. As minhas mãos suavam.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Não me recordo o ano. A verdade, é que eu nunca quis ser freira. Causa duma promessa, feita por minha mãe. Maldita promessa. Aos 7 anos, entrei naquele convento. E até fiz algumas amigas.
Na adolescência, estávamos com os hormônios à flor da pele. Não queríamos aquela virgindade eterna. Queríamos curtir os prazeres da vida, sabe como é. O jeito para acabar com esses desejos e carências era trocar certas intimidades entre nós mesmas. Mantínhamos aquilo em segredo da Madre Superiora.
Até que um dia, ele estava numa de suas visitas casuais pelo convento. Era um padre, na época, recém saído do seminário. Tinha os olhos maus. Observava-nos, desejando algo. De nós.
Eu e minha amiga estávamos num de nossos momentos mais íntimos e sensuais, nós não estávamos sabendo daquela visita do padre. Se soubéssemos, jamais estaríamos fazendo aquilo, naquela hora, naquele lugar.
A porta abriu-se bruscamente. Paramos depressa com o que estávamos fazendo e viramo-nos para ver quem estava ali, pois todos deveriam estar rezando o terço naquele momento. Menos nós, Freiras Lésbicas. Vimos então, o padre parado a porta. Ele a trancou e se aproximou de nós, furioso.
Puxou minha amiga pelo cabelo e disse-lhe para não gritar. Deu-lhe uma surra e em seguida abriu o zíper da calça que estava usando.
“É isso que vocês querem?”
Observava tudo aquilo chocada. Recuei, corri até a porta, destranquei e saí correndo, desesperada. Porém, estava convicta de uma coisa. Ele morreria.
E agora, estávamos sozinhos naquele quarto da paróquia. Só eu, ele e a 38. Hora da vingança, padre.
Mirei a arma bem no meio de sua testa.
Ave Maria, cheia de graça. Rogai por nós, pecadores. Fechei os olhos. Amém.
Apertei no gatilho. Um tiro seco. Sangue. Um padre morto e eu, uma freira lésbica assassina.
28 de abril de 2010
Câmeras e chás, cerveja e amor
Caminhava por uma dessas ruas antigas da cidade, em busca de boas imagens para o meu portfólio. Havia batido algumas fotos, teria continuado, se minha câmera não tivesse me abandonado, descarregada.
Resolvi, então, dar uma olhada numa feira de artesanatos que acontecia por ali. Pendurei minha câmera no pescoço e segui despreocupada. De repente, percebo que minha câmera caiu, e antes que eu pudesse fazer alguma coisa, ouço um crack. Olho para o chão e vejo minha câmera pisoteada. Olho para cima e vejo um cara de aparência medíocre me olhando sem graça. Subiram-me os nervos.
Comecei a reclamar e xingá-lo de tudo que eu podia, ele me pediu um pouco de calma e me chamou para conversar. Mas é claro! Conversaríamos. Discutiríamos os valores duma câmera nova.
Fomos para um desses bares boêmios e sentamo-nos numa dessas mesas na calçada, mesmo. Uma moça nos ofereceu um cardápio. Ele pediu um chá gelado. Chá gelado?! Estávamos num bar, caramba! A moça perguntou se eu queria alguma coisa. Eu disse que não, estava sem dinheiro. Ele, então, pediu mais um chá gelado, para mim.
Pegou nos óculos e pôs os cotovelos na mesa. Esperando que eu falasse algo. Então, reclamei dele, da sua falta de atenção e do chá gelado.
Tá, eu te compro uma câmera nova. Mas o que o chá gelado tem a ver com isso?
Estamos num bar, ora!
Sim, e daí...?
Discutimos um pouco mais, e nossa conversa fluía fácil.
E sobre o amor?
Não acredito nele.
Ele riu.
Você é a primeira mulher que me diz isso.
Dei de ombros.
Meu pai foi embora de casa quando eu era pequena. Que motivos eu teria para acreditar no amor?
Ele hesitou em silencio e nossa conversa foi tomando diferentes rumos. Ele tornava as coisas simples.
Você é um cara legal, mas ainda me deve uma câmera nova. -Eu disse e me levantei para ir embora.
Já vai? Fica. Toma mais uma.
Nós não tomamos nenhuma.
Não seja por isso.
Ele levantou o dedo e pediu à garçonete duas cervejas. Eu resolvi ficar. Sentei e continuamos a bater um papo legal. Tomamos mais umas e outras cervejas e no início da noite, já não estávamos mais completamente sóbrios.
Lembro dele ter pagado a conta, e me colocado delicadamente no seu carro. Não lembro de muita coisa... Sei que no dia seguinte, me encontrava ao seu lado.
Meu Deus! Eu só queria uma câmera nova e quem sabe, umas cervejas.
9 de abril de 2010
Ousadia?
Sua primeira ousadia foi comprar um sutiã de bolinhas tamanho 42 para cobrir seus pequenos seios –tão pequenos, que sambavam ali dentro. Estava tornando mulher. E ainda quando passava na rua, não sentia-se olhada nem ouvia cochichos.
Sua segunda ousadia foi roubar a maquiagem da mãe. Pintou-se –tão pouco, quase que impercebível. Estava tornando mulher. E até atraiu vagos olhares de transeuntes que pensavam na sexta-feira, que estava próxima.
Sua terceira ousadia foi usar a antiga mini saia da mãe –aquelas do tempo de mocinha, que nunca saem de moda com um reparo ali e outro aqui. Estava tornando mulher. Podia ouvir alguns cochichos daqueles rapazes que gostavam de ficar na esquina defronte ao bar –os rapazes gostavam de observar os homens bebendo, para poder fazer também quando alcançassem idade suficiente.
Sua quarta ousadia foi cismar em pintar as unhas de vermelho. As unhas das mãos, e as dos pés –coisa que só mulher fazia. Então o fez. Escolheu uma cor vermelha e vibrante e pintou suas unhas com prazer. Estava realmente tornando mulher. Calçada de chinelos exibia suas unhas vermelhas por onde passava. Seguido de um “com licença madame” recebeu um beijo na mão esquerda. Ou seria direita? Tanto faz. Recebeu um beijo de um rapaz.
Sua quinta ousadia foi aproveitar uma saída casual da mãe e roubar seus saltos. Pretos e lustrosos. Calçou-os e desfilou na rua, como quem não quer nada. Estava tornando mulher. Recebeu tantos olhares e cochichos covardes.
Mas, um dos rapazes –um ousado também –aproximou-se dela. Trocaram risos, olhares e conversas bobas. E então, este, lhe pediu um beijo. Concedido.
Finalmente havia se tornado mulher.
5 de abril de 2010
Talvez ela não fosse o tipo de menina que ele gostasse.
Talvez ele gostasse apenas de mulheres.Mulheres de verdade, maduras de verdade. Não meninas como ela, verdinhas.
Porque essas sempre tem um gosto azedo e bobo, comparado ao gosto daquelas mulheres prontas para se comer.
E a diferença entre meninas e mulheres é bruta, assim como a diferença entre frutas verdes e maduras.
14 de março de 2010
Ela vestiu um vestido branco. Mostrou para a mãe, que não gostou. Vestiu-se novamente. Curto demais. A mãe reclamou que ela só ia pra igreja vestida como a "desgraçada das desgraçadas".
Que diferença fazia? Desde quando ir a igreja exigia uma roupa requintada? Nem mesmo gostava de ir a igreja. Não que não gostasse dos ritos, com esses já estava habituada.
Não gostava do processo. Não gostava de vestir uma roupa de cinema, não gostava de andar no carro quente do pai, não gostava de abraçar pessoas com cheiro de lavanda, pessoas que ela nem conhecia. Não gostava do calor que fazia lá dentro. Não gostava de encarar as meninas que já encarava de segunda a sexta na escola. Não gostava que perguntassem como ela estava se sentindo. Não gostava do sermão do padre, não gostava dos olhos dos santos, e a óstia não tinha um gosto bom. Acreditava em Deus, e desacreditava na igreja. Acreditiva na Biblia, e desacreditava do folhetim dos domingos. Mas mesmo assim ia. Não cantava música alguma, achava melhor ficar calada ao proferir mentiras.
O padre dava a missa, os fiés ceavam, as pessoas lhe abraçavam. E a parte que ela mais gostava era de voltar pra o carro quente do pai, ouvir as reclamações da mãe e só ter que voltar ali no próximo domingo.
Que diferença fazia? Desde quando ir a igreja exigia uma roupa requintada? Nem mesmo gostava de ir a igreja. Não que não gostasse dos ritos, com esses já estava habituada.
Não gostava do processo. Não gostava de vestir uma roupa de cinema, não gostava de andar no carro quente do pai, não gostava de abraçar pessoas com cheiro de lavanda, pessoas que ela nem conhecia. Não gostava do calor que fazia lá dentro. Não gostava de encarar as meninas que já encarava de segunda a sexta na escola. Não gostava que perguntassem como ela estava se sentindo. Não gostava do sermão do padre, não gostava dos olhos dos santos, e a óstia não tinha um gosto bom. Acreditava em Deus, e desacreditava na igreja. Acreditiva na Biblia, e desacreditava do folhetim dos domingos. Mas mesmo assim ia. Não cantava música alguma, achava melhor ficar calada ao proferir mentiras.
O padre dava a missa, os fiés ceavam, as pessoas lhe abraçavam. E a parte que ela mais gostava era de voltar pra o carro quente do pai, ouvir as reclamações da mãe e só ter que voltar ali no próximo domingo.
9 de março de 2010
A História de Lily Braun
Eu escrevi, é experimental. Todos conhecem Lily Braun de Chico (e Edu Lobo) não é?
Lily gostava de cinema, de romances. Ela gostava de ler e de se vestir de personagem principal, gostava de sonhar com aqueles homens dos livros. Surreais.
No Dancing do hotel, lia atenciosamente um exemplar de Emily Brontë, mas o abrir da porta chamou sua atenção. Exatamente como aqueles homens dos livros que Lily costumava ler, ele apareceu por lá. Lily disfarçou enquanto o observava. Ele estava distraído, mas num relance, aqueles olhos se fixaram em Lily, e dela não saíram até o fim da noite. Antes de ir embora, Lily sorriu timidamente para ele.
Na noite seguinte, por algum motivo ela resolveu voltar ao Dancing. Para sua surpresa, ele estava lá novamente. Depois de algumas trocas de olhares, e sorrisos, aproximou-se dela com um drinque, e ofereceu este a ela. Chamou-a de Anjo Azul enquanto conversavam, assim como aqueles homens de romances que Lily tanto sonhava. Os encontros passaram a ser freqüentes. Como no cinema, de vez em quando ele escrevia um poema especialmente para ela, e junto com o poema, entregava uma rosa. Ao som do blues, no Dancing, Lily se derretia com todas aquelas juras eternas de amor.
Certa noite ele abusou do uísque, dentre algumas palavras e declarações ele disse que o corpo de Lily naquela noite pertencia só a ele. “Por favor” –pensou Lily. Pôs o xale sobre o decote, e disparou envergonhada.
Por mais que não quisesse, algo a fazia não deixar de freqüentar o Dancing. Dentre um livro e outro, Lily levava seus olhos até a porta. Ele não aparecia mais por lá. Quando estava para sair, Lily deu uma ultima olhada para porta, encantou-se então com o buquê e os dez poemas na mão do homem de seus sonhos. Por mais que doesse Lily não abdicou de seu orgulho. Disse-lhe adeus, e ele, insistente, jogou as rosas no chão e disse-lhe que agora a amava como esposa. Disse-lhe que queria casar, desta vez Lily não hesitou, e terminou sendo beijada no altar. O casamento parecia ser deslumbrante, como nos romances. Lily decediu que não precisava mais ler livros românticos, sua própria história já bastava.
Com o passar do tempo, não havia mais idas ao cinema, não havia mais drinques no Dancing, trocas de olhares, e nem mesmo uma rosa.
28 de fevereiro de 2010
11 de fevereiro de 2010
Qual é o problema dos jovens de hoje? Perguntei a uma amiga, em quem ela ia votar, ja que ela tem dezesseis anos e pode tirar o título. Ela disse que não ia se preocupar com isso agora, que nem ia tirar o título de eleitor por enquanto. Porque?
De 1964 à 1985 vivemos numa repressão sem o direito do voto, não é mesmo? Lutamos muito para conseguir o direito do voto novamente. Lutamos muito para que as mulheres pudessem ter o direito do voto. Lutamos, sofremos, perdemos gente e conseguimos. E uma garota com seus recém completos dezesseis anos diz que não vai se preocupar em votar. Diz praticamente que não liga pra quem governa o País em que ela vive. Não tem noção de nada. O que é isso? É normal? Moderno? Pra mim é pura ignorancia. E não é só ela, são todos. Todos que ganham pão, todos que ganham circo. Todos ficam cegos. E quem liga? Nossa sociedade está perdida?
De 1964 à 1985 vivemos numa repressão sem o direito do voto, não é mesmo? Lutamos muito para conseguir o direito do voto novamente. Lutamos muito para que as mulheres pudessem ter o direito do voto. Lutamos, sofremos, perdemos gente e conseguimos. E uma garota com seus recém completos dezesseis anos diz que não vai se preocupar em votar. Diz praticamente que não liga pra quem governa o País em que ela vive. Não tem noção de nada. O que é isso? É normal? Moderno? Pra mim é pura ignorancia. E não é só ela, são todos. Todos que ganham pão, todos que ganham circo. Todos ficam cegos. E quem liga? Nossa sociedade está perdida?
Ando meio desligado
Eu nem sinto meus pés no chão
Olho e não vejo nada
Eu só penso se você me quer
Eu nem vejo a hora de lhe dizer
Aquilo tudo que eu decorei
E depois o beijo que eu já sonhei
Você vai sentir, mas...
Por favor, não leve a mal
Eu só quero que você me queira
Não leve a mal
Ando Meio Desligado - Os Mutantes
Eu nem sinto meus pés no chão
Olho e não vejo nada
Eu só penso se você me quer
Eu nem vejo a hora de lhe dizer
Aquilo tudo que eu decorei
E depois o beijo que eu já sonhei
Você vai sentir, mas...
Por favor, não leve a mal
Eu só quero que você me queira
Não leve a mal
Ando Meio Desligado - Os Mutantes
7 de fevereiro de 2010
"Na tua tela querem ensinar a fazer comida uma nação que não tem ovo na panela...
(que não tem gesto, quem tem medo assimila toda forma de expressão como protesto.)"
Xanéu Nº 5 - O Teatro Mágico
Isso não é uma crítica ao governo, nem ao programa. Acho que pode ser uma crítica à televisão em geral, à televisão e sua futilidade. Pode ser uma crítica a uma sociedade alienada também. Uma sociedade cujo a televisão emburreceu. Uma TV e suas novelas, uma TV e seus realitys shows, uma TV e a falta de cultura... Uma sociedade burra, uma sociedade sem voz, uma sociedade que faz tudo igual, sem nem saber o que ta fazendo... Acho que isso nem é uma crítica.
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